Arqueología y Territorio Medieval 27, 2020. pp. 137-156 I.S.S.N.: 1134-3184 DOI: 10.17561/aytm.v27.5363

Uma aproximação ao estudo das produções cerâmicas alto medievais (séculos iv a viii) no território português. Um estado da questão.

An approach to the study of early medieval pottery (4th to 8th centuries) in portuguese territory. A state of the matter.

Gabriel Mazoni Venturini de Souza1

Tomás Cordero Ruiz2

RESUMO

A análise das produções cerâmicas alto medievais é uma questão marginal nos estudos da Idade Média portugueses, a situação que gerou, atualmente, a falta de fósseis-diretores que auxiliem no estudo da cultura material deste período. Neste trabalho, procuramos compreender as razões desta situação através de uma abordagem analítica à história da investigação da cerâmica Alto Medieval em Portugal. Uma reflexão que esperamos possa melhorar a perceção do estado atual da pesquisa, sobre a qual destacaremos o que, em nossa opinião, são as linhas prioritárias de desenvolvimento da investigação.

Palavras-chave: Historiografia, Portugal, Cerâmica, Alta Idade Média

ABSTRACT

The analysis of the early middle age pottery productions is a marginal issue in the studies of the Portuguese Middle Age. A situation that has generated, nowadays, the lack of director fossils that help in the study of the material culture of this period. In this paper, we seek to address the reasons for this situation through an analytical approach to the history of the investigation of early middle age pottery in Portugal. A reflection that we hope may improve the perception of the current state of research, in which we will highlight what, in our opinion, are the priority lines of research development.

Keywords: Historiography, Portugal, Pottery. Early Middle Ages.

RESUMEN

El análisis de las producciones de cerámica alto medieval es un tema marginal en los estudios de la Edad Media portuguesa. Una situación que ha generado, en la actualidad, la falta de fósiles directores que ayuden en el estudio de la cultura material de este período. En este artículo, buscamos abordar las razones de esta situación a través de un enfoque analítico de la historia de la investigación de la cerámica de esa época. Una reflexión que esperamos pueda mejorar la percepción del estado actual de la investigación, en la que destacaremos cuáles, a nuestro juicio, son las líneas prioritarias del desarrollo de la investigación.

Palabras clave: Historiografía, Portugal, Cerámica. Alta Edad Media.


1. QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

O estudo da cerâmica da Alta Idade Média no âmbito peninsular teve, nos últimos 25 anos, um grande desenvolvimento, especialmente no contexto espanhol, com o surgimento de algumas sínteses e trabalhos de análise historiográfica da investigação (GUTIÉRREZ LLORET 1986; ACIEN ALMANSA et al. 1991; OLMO ENCISO 1991; GUTIÉRREZ LLORET 1992; CABALLERO ZOREDA, MATEOS Y RETUERCE VELASCO 2003; ALBA CALZADO y GUTIÉRREZ LLORET 2008; MORO ABADÍA 2012; TEJERIZO GARCÍA 2012; GONZÁLEZ 2014). Dentro deste contexto, esse maior conhecimento permitiu um aprofundar das análises e da escala de trabalho, levando a um melhor entendimento dos aspetos sociais, económicos, religiosos ou políticos. No entanto, no âmbito português, não se verifica a mesma dinâmica. Esta situação, produto da escassez de projetos e linhas de investigação interessadas neste tipo de espólio material nacional, é um problema que dificulta o aprofundamento de uma análise integral deste período.

Em sua obra amplamente conhecida, C. Orton, P. Tyers e A. Vince (1993), defendem a existência de três grandes fases na historiografia geral dos estudos cerâmicos: uma histórico-artística, uma tipológica e uma contextual. Estas fases podem ser aplicadas à realidade portuguesa, graças principalmente a dois fatores: por um lado, a investigação nacional sofreu influências naturais das grandes correntes teóricas europeias e, por outro lado, o livro em questão baseou-se, em parte, na experiência dos especialistas em cerâmica de época romana para definir as grandes fases supracitadas. Para o caso da cerâmica Alto Medieval em Portugal (fig. 1), foram muitas vezes investigadores originalmente do período romano que acabaram por trabalhar os materiais mais tardios, o que também ajuda a explicar a facilidade com que este modelo acaba por se aplicar também ao caso nacional (ORTON, TYERS y VINCE 1993). A problemática sobre a cerâmica Alto Medieval portuguesa será abordada, portanto, a partir de uma análise da evolução das várias fases do estudo das cerâmicas, identificando as características e as marcas duradouras de cada uma delas.

2. OS PRIMÓRDIOS DA INVESTIGAÇÃO

Os inícios da investigação na Alta Idade Média em Portugal poder-se-iam datar a partir do último quartel do século XIX. Neste período, parece ser claro o interesse dos primeiros investigadores portugueses para com a arqueologia da época em questão, no entanto, os materiais cerâmicos raramente faziam parte das publicações que foram sendo divulgadas. Verifica-se essa tendência aquando da edição do primeiro volume do “O Archeologo Português”, em 1895, onde as referências alto medievais são epigráficas, por José Leite de Vasconcelos (VASCONCELOS 1895). A contribuição da arqueologia para o estudo da Alta Idade Média limitava-se à divulgação de achados ocasionais (FERNANDES 2005, p. 149-150; TENTE 2018, p. 52). Existe, nesta fase da investigação, uma perspetiva de estudo histórico-artística, na qual o espólio cerâmico não tem uma identidade de investigação própria, e o foco de estudo está em materiais e contextos com mais apelo em termos estéticos, tais como elementos arquitetónicos, inscrições ou grandes monumentos (como igrejas, conventos ou fortificações). Um exemplo desta realidade é uma obra de S. Estácio da Veiga. Em “Memoria das Antiguidades de Mértola”, encontram-se dados sobre diversas etapas da história da cidade, incluindo de período visigodo. No entanto, o espólio cerâmico ainda não possui um valor de estudo inerente, sendo que o único objeto de cerâmica mencionado para esse período é o que o autor define como uma “tessera monogrammatica de argila, de forma circular, com duas fases planas e paralelas, tendo n’uma gravado um signal, que parece o monogramma de Christo, composto com as letras X,P,T enlaçadas” (VEIGA 1880, p. 33), que só é mencionada devido ao monograma presente.

O paradigma da investigação definido em finais do século XIX não sofre grandes alterações nas primeiras décadas do século XX. Neste tempo, foram realizados estudos de sítios de cronologia Alto Medieval sem que, no entanto, se tenha aprofundado a questão dos materiais cerâmicos, mantendo-se uma perspetiva de estudo artística. Esta situação não ocorre somente em Portugal, encontrando-se respaldo na vizinha Espanha, onde a investigação segue passos e tendências similares (GONZÁLEZ 2014, p. 74). Um exemplo de um sítio Alto Medieval estudado nesta fase é o de Tróia, junto a Setúbal, mencionado pela primeira vez por A. Marques da Costa no IV volume do “Archeologo Português”, em 1898. Tróia terá mais dois trabalhos publicados pelo mesmo autor, em 1929 e 1933, sendo que apenas neste último há a menção a cerâmicas, nomeadamente a ânforas e cerâmica fina, sem contexto de escavação (COSTA 1898; 1929; 1933).

Em meados do século XX o estudo do período Alto Medieval começa a consolidar-se com uma entidade própria de investigação, dentro do contexto dos estudos medievais portugueses. Para isto contribuíram trabalhos como o de Fernando de Almeida, em Idanha-a-Velha, alguns dos quais divulgados ainda na década de 50 daquele século (ALMEIDA 1956; 1957). Uma das maiores obras deste autor, um compêndio sobre arte visigótica em Portugal, foi publicado num número especial do Arqueólogo Português, destacando muitas peças de período visigótico, mas apenas aquelas que tinham valor artístico. São igualmente mencionadas algumas cerâmicas, mas somente Terra Sigillata (pois se reconhece nelas um valor estético), com inscrições (fig. 2) e com decorações menos comuns (ALMEIDA 1962 p. 232-234). Mais tarde, em um trabalho com O. da Veiga Ferreira, está descrito um prato/taça baixa de Terra Sigillata que possuía três furos, um deles ainda conservando um “gato” de bronze, sendo referida a existência de outra peça semelhante, pertencente a uma coleção privada, e que teria sido mostrada a F. de Almeida (ALMEIDA Y FERREIRA 1964, p. 98).

Fig. 1. Localização dos sitos mencionados no texto.

Em período semelhante aos trabalhos anteriores estão os estudos conduzidos por R. Cortez. Apesar de o seu foco ser apenas nas peças de Terra Sigillata, trata-se de um dos primeiros a escrever artigos dedicados exclusivamente ao espólio cerâmico, abordando coleções de diversos concelhos como o de Bragança, Santa Maria da Feira ou São Pedro do Sul (CORTEZ 1951). Parte da mesma corrente de investigação são também autores como Abel Viana e Manuel Heleno. É de autoria do primeiro uma das poucas comunicações sobre o período Visigodo no I Congresso Nacional de Arqueologia, onde apresentou uma lápide funerária (VIANA 1959), e um outro artigo sobre Suevos e Visigodos no Baixo Alentejo (VIANA 1960). Neste último é feita referência a “uns grandes pratos de barro vermelho, Terra Sigillata, com ornatos estampados na parte interna do fundo” (VIANA 1960, p. 9), uma tipologia que, na época, já tinha aparecido nos sítios de Conimbriga, em Condeixa-a-Velha, no Castro de Fiães, em Vila da Feira, e na Herdade da Chaminé, em Elvas. Quanto a M. Heleno, os seus trabalhos sobre Torre de Palma, em Monforte, dão igualmente primazia aos elementos decorativos, especialmente da arquitetura. São poucas as referências feitas à cerâmica, nomeadamente às Terra Sigillatas, sendo muito pouco detalhadas (HELENO 1962).

Existem alguns autores que abordaram mais objetivamente a questão do espólio cerâmico, especialmente a partir dos anos 60. Estes trabalhos eram feitos maioritariamente do ponto de vista da cerâmica imperial romana, mas com menções e investigações para cronologias mais avançadas, nomeadamente entre os séculos IV e VI d.C. É o caso de Adília Silva e Jorge Alarcão, que em 1964, escrevem um artigo dedicado à cerâmica estampilhada vermelha de Conimbriga (SILVA y ALARCÃO 1964). Outro artigo relevante, com materiais provenientes do mesmo sítio, é escrito por Manuela Delgado e publicado em 1967, dedicado às Terra Sigillatas claras (DELGADO 1967).

Fig. 2. Terra sigillata decorada. Em ALMEIDA, 1962, p. LII.

O sítio de Conimbriga será, na verdade, um dos sítios arqueológicos portugueses mais estudados e publicados, sendo que a cerâmica tardia não está ausente nas publicações. É de destacar-se, para essas décadas, a importância das campanhas de escavações luso-francesas, entre 1964 e 1971, que permitiram um aprofundar dos conhecimentos sobre o sítio em questão, para além do estudo de uma grande coleção de materiais arqueológicos. Os trabalhos de investigadores como J. Alarcão ou M. Delgado, fazem parte do que será uma nova corrente de investigação que começa a destacar-se em relação à tendência anterior. Esta nova corrente enquadra-se num movimento europeu, no qual foram especialmente relevantes os trabalhos e publicações de John Hayes. A sua tese Late Roman Pottery, defendida em 1964, mas publicada mais tarde (HAYES 1972), teve grande repercussão a nível europeu e em muito contribuiu para os estudos da cerâmica romana tardia, servindo de base e sendo citada em praticamente todas as publicações portuguesas sobre a temática. São ainda de realçar outros trabalhos na mesma linha dos de J. Hayes como, por exemplo, os de Jacqueline Rigoir, para as produções tardias da Gália (RIGOIR 1968).

3. DA REVOLUÇÃO DE ABRIL AO SÉCULO XXI (DÉCADAS DE 70-90)

Com a revolução dos cravos, de abril de 1974, que veio implementar o estado democrático, desencadeou-se a circulação de novas ideias políticas, sociais e também científicas, o que propiciou novos impulsos para a arqueologia portuguesa. Para além de mais liberdade de associação e uma maior abertura à inovação (FERNANDES 2005, p. 151), juntaram-se influências da investigação a nível europeu. Os trabalhos de J. Hayes e a revista italiana Archeologia Medievale (a partir de 1974), são exemplos dessas influências, que começaram a introduzir novos conceitos no estudo da cultura material, que virão a trazer uma identidade de investigação própria à cerâmica, como meio de obtenção de conhecimento sobre as sociedades do passado. Algo de semelhante acontece em Espanha aquando a morte do ditador Francisco Franco e o início de um estado democrático, três anos depois (GONZÁLEZ 2014, p. 78). Podemos afirmar que, após alguns ensaios e aproximações nos anos anteriores, entrou-se de forma clara na fase do estudo tipológico. É na década de 70 que surgem dois campos arqueológicos em Portugal, o Campo Arqueológico de Braga, fundado em 1976 e o Campo Arqueológico de Mértola, fundado em 1978. O principal contributo destas duas instituições foi o alargamento das escavações nessas duas localidades, que incentivaram a investigação em arqueologia e património. Esses estudos incluíram também coleções Alto Medievais, publicadas na sua maioria já no século XXI (GÓMEZ MARTÍNEZ 2004; DELGADO y MORAIS 2009; LOPES 2014; PEÑIN, MAGALHÃES y MARTINS 2014).

As investigações desenvolvidas em Conimbriga continuaram a ser importantes no panorama nacional, uma vez que constituíram um caso diferenciado no contexto português, pois as investigações foram contínuas no tempo, graças a várias equipas dedicadas ao local, com financiamento e estruturas próprias para o desenvolvimento de estudos diversos. Fruto desta situação, a investigação sobre o período Alto Medieval começou gradualmente a ganhar mais importância, graças também a novas descobertas feitas no Fórum e na casa de Tancinus. Para o período em questão, destacam-se as publicações Fouilles de Conimbriga, fruto das escavações luso-francesas mencionadas anteriormente, e cujo espólio será sucessivamente estudado e divulgado nessas publicações. Estas edições, juntamente com outros artigos a abordarem as produções cerâmicas tardias, estão em linha com as principais tendências europeias da investigação. O foco principal dos textos é a descrição das formas e tipologias encontradas, não só de Terra Sigillata, mas também de ânforas, havendo uma clara preocupação em definir as características técnicas e morfológicas dos utensílios cerâmicos (DELGADO 1975; ALARCÃO 1976).

Ao longo dos anos 70, mais publicações e estudos começaram a dedicar-se ao tema das cerâmicas tardias, mais especificamente das Terra Sigillatas. São exemplos disso um trabalho sobre cerâmica fina de Tróia, apresentado no III Congresso Nacional de Arqueologia (MAIA 1974), e uma publicação sobre a cerâmica romana fina tardia de Guifões (ALMEIDA y SANTOS 1975). Nesses trabalhos, são visíveis as diferenças em relação às tendências anteriores da investigação, com as cerâmicas a terem um papel de destaque e um valor inerente. No entanto, mantem-se o foco nas cerâmicas finas e há pouco desenvolvimento em termos de conclusões e interpretações sobre os contextos em que se inserem, ficando-se, geralmente, pela análise dos materiais em si.

Na década de 80 do século XX, o estudo da cerâmica Alto Medieval ampliou-se e passou a englobar a questão das cerâmicas comuns, um campo de investigação pouco explorado anteriormente. Neste sentido, os estudos de Simon Keay, especificamente sobre ânforas (com caracterizações de ânforas tardias lusitanas, de especial relevo para a investigação portuguesa), e os trabalhos de M. Fulford e D. Peacock sobre cerâmica comum do norte de África, foram importantes para a definição de métodos de trabalho e protocolo de estudo de referência a nível europeu. São esforços que irão complementar o conjunto de sistematizações tipológicas iniciado na década anterior (KEAY 1984; FULFORD y PEACOCK 1984). No contexto espanhol, os estudos das produções de cerâmica comum surgiram nesta década, seguindo linhas estabelecidas na investigação italiana e francesa. São exemplo disto os trabalhos de Sónia Gutiérrez Lloret, abordando a questão das peças de transição do mundo visigodo para o período “paleoislâmico” (GUTIÉRREZ LLORET 1986; 1992; 1996; GONZÁLEZ 2014, p. 79). Entretanto, a generalização do método estratigráfico na investigação arqueológica permitiu a obtenção de informação de melhor qualidade sobre os sítios. Além disso, aumentou também o volume de dados disponíveis devido à arqueologia preventiva que é mais frequente a partir de então na expansão e remodelação dos centros urbanos históricos, nos grandes projetos agrícolas revolucionados por novos métodos e tecnologia agrária no mundo rural e na realização de grandes estruturas públicas, tais como estradas, ferrovias, etc.

Em Portugal, a cerâmica fina continuará a ser o principal foco de estudo, no entanto, começa-se a dar relevância à interpretação dos contextos de proveniência bem como se sublinha o potencial para o estudo da economia que as cerâmicas poderiam ter. Nesse aspeto destaca-se o artigo de M. Delgado, sobre as peças provenientes do Médio Oriente (DELGADO 1988), onde a autora salienta a importância destas peças como fósseis-diretores para a definição de cronologias dos contextos de escavação. Neste trabalho destacam-se bastante as características técnicas e formais das peças, porém, trabalham-se também questões mais teóricas sobre as origens das ditas produções, sua difusão, e o significado da sua presença em território português, marcando assim algumas das diferenças em relação aos paradigmas anteriores (fig. 3). Outro importante marco nesta linha de investigação foi a publicação de O Domínio Romano em Portugal (ALARCÃO 1988). Sendo uma obra de síntese, essencialmente voltada para as épocas romanas republicana e imperial, também aborda o fim do Império e os inícios da Alta Idade Média. No que se refere às cerâmicas, esta obra menciona-as e destaca a sua importância, todavia, menciona principalmente, para fases mais tardias, a cerâmica fina de importação (ALARCÃO 1988, p. 151). Apenas são referidas as cerâmica comuns para os casos de Braga e Conimbriga, havendo uma menção aos “grés tardo-romanos” desta última cidade (ALARCÃO 1988, p. 144). Para a zona Alentejana, são feitas menções a algumas villae, mas é de se destacar a importância dada ao sítio de São Cucufate. Tendo sido escavado entre 1979 e 1986 por uma equipa luso-francesa, tem uma ocupação Alto Medieval claramente identificada. Os materiais encontrados foram sucessivamente estudados e publicados, permitindo-nos conhecer não somente as cerâmicas finas do sítio, mas também a cerâmica comum associada à cronotipologias definidas. Não deixam, porém, de estarem mais bem definidas as cerâmicas comuns dos contextos imperiais, balizadas nas cronologias dadas pelas Terra Sigillata. No que se refere ao período pós-romano há uma abordagem a peças de cerâmica comum do século V, o que marca um avanço na investigação das cerâmicas comuns daqueles período (ALARCÃO, ÉTIENNE y MAYET 1990; PONTE 1990).

O IV Congresso Internacional de Cerâmica Medieval no Mediterrâneo Ocidental, realizado em Lisboa e organizado pelo Campo Arqueológico de Mértola em 1987, significou um importante avanço no estudo da cerâmica medieval em Portugal. No entanto, o estudo das produções Alto Medievais representou uma percentagem muito pequena no panorama científico do encontro. Nas atas deste congresso, apenas um dos artigos se enquadra cronologicamente na Alta Idade Média, sendo totalmente focado em sítios espanhóis. Trata-se um artigo com alguns dos principais nomes da investigação de época visigoda em Espanha, no qual se procura diferenciar e sistematizar as produções de cerâmica encontradas em habitats (e não em necrópoles). São analisadas cerâmica finas e comuns (com maior foco nestas), ensaiando-se cronotipologias para ambas, com uma amostragem que incluiu sítios de quase todo o país (fig. 4). Esse tipo de exercício, especialmente no caso das cerâmicas comuns, não seria possível, na altura, para contextos portugueses (ACIEN ALMANSA et al. 1991).

Algo de semelhante acontecerá um pouco mais tarde, a partir de 1992, quando começa a ser editada a revista Arqueologia Medieval. O início desta publicação foi importante para a consolidação e reconhecimento dos estudos arqueológicos medievais. Porém, no primeiro número desta revista, apenas dois artigos fazem menção às cerâmicas alto medievais. Num deles mencionam-se algumas peças de cerâmicas comum associadas a enterramentos, mas aparecem como uma referência claramente secundária no contexto do artigo (FERREIRA 1992, p. 95). O outro trata de cerâmica fina oriental, nomeadamente focenses e cipriotas tardias encontradas em Mértola (DELGADO 1992). Em edições futuras desta revista, apesar de muitos artigos de relevo (especialmente no que toca à arqueologia de contextos islâmicos), a representatividade das cerâmicas alto medievais não irá sofrer grandes alterações, mantendo-se diminuta ou mesmo inexistente (caso, por exemplo, do terceiro e quarto números da revista).

As Jornadas de Cerâmica Medieval e Pós-Medieval, realizadas em Tondela durante a década de 90, foram importantes no desenvolvimento dos estudos de espólios cerâmicos medievais. Tiveram quatro edições, nos anos de 1992, 1995, 1997 e 2000, todas com atas publicadas. Estes encontros permitiram a reunião de investigadores portugueses e de outras nacionalidades em torno das problemáticas relacionadas com estudos cerâmicos, o que “gerou entusiasmos e incentivou novas pesquisas”, segundo I. Fernandes (FERNANDES 2005, p. 160). No entanto, no que diz respeito às cerâmicas alto medievais, a sua representação foi escassa, havendo um maior enfoque nas cerâmicas pleno e baixo medievais. Na sua primeira edição apenas duas comunicações trabalharam este tema: uma sobre a Casa do Infante, no Porto, em que se abordam as cerâmicas alto medievais de forma breve dentro de um contexto cronológico mais amplo (REAL et al. 1995); outra sobre cerâmica comum de Silves, abordando peças vidradas e pintadas que possivelmente estariam relacionadas com os primeiros momentos da conquista islâmica (GOMES, 1995). Na segunda edição das jornadas, há apenas uma menção, referindo-se a propósito de um estudo sobre Évora em que “vários fragmentos de panelas de bordo boleado envasado feitos à mão e uma tigela curva, bicónica, com decoração alisada” que se integrariam possivelmente numa cronologia Alto Medieval (TEICHNER 1998, p. 23). Um trabalho sobre as cerâmicas de Silves volta a aparecer na terceira edição das Jornadas, mas agora abordando uma cronologia situada entre os séculos VI e VIII. Apresentam-se algumas peças de Terra Sigillata, mas a maioria dos materiais descritos são de cerâmica comum, organizados de acordo com os fabricos identificados (GOMES y GOMES 2000). Já na IV e última edição destas Jornadas não houve qualquer estudo ou abordagem às cerâmicas Alto Medievais provenientes de sítios portugueses.

Fig. 3. Cerâmica Cipriota tardia. Em DELGADO, 1988, Estampa III.

No mesmo ano em que se iniciam as Jornadas de Cerâmica Medieval e Pós-Medieval em Tondela e a revista Arqueologia Medieval, ocorre a IV Reunião de Arqueologia Cristã Hispânica, realizada em Lisboa. É consensual o reconhecimento do importante impulso dado nesta reunião aos investigadores portugueses (FERNANDES 2005; TENTE 2018). A maior importância concedida à cerâmica Alto Medieval a partir dos anos 90 do século XX acaba por se refletir nesta reunião, onde se fez a apresentação de diversos sítios e dos seus respetivos materiais arqueológicos, incluindo as cerâmicas. São exemplo a comunicação sobre Viseu, em que são referidas cerâmicas cinzentas encontradas durante escavações da Varanda dos Cónegos/ Praça D. Duarte, junto da Sé (PEDRO y VAZ 1995); e outra sobre o sítio do Montinho das Laranjeiras (Alcoutim), mais focado nas Terra Sigillatas claras ali encontradas (COUTINHO 1995).

Perto da passagem do milénio, e por iniciativa do antigo Instituto Português de Arqueologia (IPA), foi criada a Revista Portuguesa de Arqueologia, o que veio permitir a publicação de mais artigos sobre a produção cerâmica Alto Medieval. São exemplos dois artigos, um sobre terra sigillata de Miróbriga (fig. 5), especialmente de importação (QUARESMA 1999) e outro sobre ânforas e Terra Sigillatas tardias provenientes do Teatro Romano de Lisboa (DIOGO y TRINDADE 1999). Em termos metodológicos, nota-se no primeiro artigo alguma preocupação em enquadrar os fragmentos estudados na estratigrafia das escavações. No entanto, o principal foco é a identificação das formas das peças e o seu enquadramento nas tipologias conhecidas, especialmente naquelas definidas por J. Hayes. No caso do segundo artigo, apenas se procede à identificação das tipologias, tanto das Terra Sigillata quanto das ânforas, sem um enquadramento estratigráfico mais detalhado.

Fig. 4. Conjunto cerâmico dos séculos V a VII. Em ACIEN ALMANSA et al., 1991, p. 53.

4. O NOVO MILÉNIO E A ATUALIDADE

A partir do novo milénio, assiste-se a um incremento considerável do número de trabalhos de investigação e congressos referentes à produção cerâmica do período Alto Medieval. As bases para esse crescimento foram preparadas nas décadas anteriores, especialmente nos anos 90 do século XX, com a introdução e generalização do chamado método Barker-Harris. A melhoria no método de registo arqueológico é, também, contemporânea a um crescimento do interesse pelo estudo e pela valorização do espólio cerâmico deste período, uma situação que consubstanciou no aumento do número de publicações e de investigadores interessados na área. Ao mesmo tempo, o estudo das coleções cerâmicas atingiu definitivamente, como no resto do espaço europeu, um papel fundamental na discussão e resolução de problemas históricos, sendo a Alta Idade Média um período em que esta utilidade será ainda maior, devido a escassez de fontes documentais e materiais. Em termos de fases historiográficas do estudo das cerâmicas, estaríamos a entrar na fase contextual, que se integra numa onda teórica de nível europeu, com a qual a investigação portuguesa está, parcialmente, alinhada.

Em relação ao estudo das áreas rurais, o aumento das publicações fez com que um grande volume de novos dados fosse disponibilizado para a comunidade científica. Algumas das diferenças importantes que se observam nesta nova etapa são, por um lado, uma maior preocupação com o enquadramento estratigráfico das coleções estudadas e, por outro, a inclusão mais regular da cerâmica comum nos estudos. Esta inclusão ocorre em diversos graus, desde teses exclusivamente dedicadas ao assunto, até breves menções dentro de trabalhos mais alargados sobre as materialidades de um sítio. Na linha definida no primeiro caso, pode ser referenciado o estudo feito sobre os materiais cerâmicos da villa de São Cucufate, dedicado especificamente à análise da cerâmica comum. Este trabalho centrou-se, em grande medida, na cerâmica de cronologia romana Alto e Baixo Medieval, mas conseguiu distinguir-se uma parte do espólio enquadrado cronologicamente entre os séculos IV e VI (PINTO 2003). Em outros sítios, o estudo das cerâmicas comuns é feito num contexto de análises mais alargadas sobre os espólios. É o caso do estudo sobre uma das lixeiras da villa romana na Quinta das Longas, em Elvas, datada dos séculos IV e V. Trabalharam-se todos os materiais encontrados, que incluem Terra Sigillata de importação, ânforas e cerâmica comum (que constitui a grande maioria da coleção). Há uma clara preocupação em contextualizar estratigraficamente os materiais, sendo realizada também uma análise tipológica/funcional das peças, fornecendo-se os gráficos analíticos, os desenhos (fig. 6) e as fichas de cada recipiente (ALMEIDA y CARVALHO 2005). Na villa de Castanheira do Ribatejo, fez-se um estudo semelhante para o espólio cerâmico dos níveis medievais, examinando não só as Terra Sigillata de importação africanas e orientais, mas também as ânforas e a cerâmica comum, apresentando-se desenhos das peças e uma análise por tipologia (BATALHA et al. 2009).

Fig. 5. Terra sigillata de Miróbriga. Em QUARESMA, 1999, p. 76.

Fig. 6. Terra sigillata da Quinta da Longas. Em ALMEIDA; CARVALHO, 2005, p. 366.

Fora dos contextos arqueológicos das villae existem outros trabalhos que incluíram estudos sobre cerâmicas comuns nas suas análises. No estudo sobre a Torre Velha 3, em Serpa, abordou-se a diacronicamente a ocupação do sítio dando-se uma especial atenção à análise da cerâmica comum. O estudo das peças é feito de acordo com as tipologias formais identificadas, integrando-as nos respetivos contextos estratigráficos (VAQUEIRA 2015). No Castelo de Crestuma, em Vila Nova de Gaia, escavações revelaram contextos de diversas épocas, incluindo níveis Alto Medievais interpretados como um possível contexto portuário, datados entre os séculos IV e VII. Foi feita uma boa contextualização estratigráfica dos materiais estudados, sendo que o espólio Alto Medieval corresponde à terceira fase de ocupação do sítio. Em termos de estudo dos materiais, foram publicados dados sobre Terra Sigillata de importação (de origem hispânica, africana e foceense), cerâmica cinzenta tardia e ânforas. As peças foram estudadas, primeiramente, de acordo os seus fabricos e, em seguida, segundo as suas tipologias formais, apresentando-se desenhos e dados numéricos para todas as produções (PINTO et al. 2015). Para a zona de Cascais, junto a Lisboa, há uma tese sobre o sítio de Casais Velhos no qual se abordam as Terra Sigillatas claras, as ânforas e a cerâmica comum, sendo que estas últimas compõem a grande maioria dos materiais da coleção. Cada um dos referidos grupos foi analisado separadamente, identificando-se as morfotipologias presentes e sendo feita igualmente uma análise das técnicas de fabrico e cozedura (SARMENTO 2012).

No entanto, é preciso realçar que, apesar da maior inclusão de outras materialidades nos estudos publicados sobre a Alta Idade Média, as Terra Sigillatas e as ânforas (especialmente as primeiras) continuaram a ter a primazia, tal como ocorreu na fase anterior. Para além dos exemplos mencionados anteriormente (nos quais a grande maioria inclui dados sobre Terra Sigillata), há casos como o da Torre Velha 1, em Serpa, ou o da villa do Rabaçal, em Penela, em que as publicações se focam somente nestes materiais de importação, especialmente na cerâmica fina de origem norte africana. As outras produções cerâmicas ficaram excluídas. São trabalhos em que a análise tipológica se sobrepõe à análise e interpretação contextual (DE MAN 2009; BURACA 2011; QUARESMA 2011). Observa-se uma tendência semelhante em um estudo sobre Lagos, onde se analisam as produções regionais de ânforas, propondo-se uma nova designação para uma das produções, nomeadamente “Algarve 1”, numa linha de investigação que revela a sua ênfase no estudo tipológico, sendo a parte de interpretação contextual secundária (FABIÃO 2017). Há também situações como a de Tróia, onde há já alguma preocupação em relação aos contextos, mas o estudo das cerâmicas cinge-se fundamentalmente à análise das tipologias de Terra Sigillata e ânforas encontradas. Efetivamente procurou-se interpretar a evolução do sítio entre os séculos IV e V, focando-se principalmente nos momentos de abandono das fábricas de salga, mas para a datação desses momentos apenas são utilizadas as tipologias das Terra Sigillatas e ânforas tardias sem abordagem a outros tipos de espólio (PINTO, MAGALHÃES y BRUM 2016).

Em termos de sínteses e análises regionais, assistiu-se no século XXI à publicação de diversos trabalhos que procuraram compreender melhor os padrões de ocupação rural romanos e alto medievais. Uma vez mais é dado um destaque especial ao estudo das Terra Sigillatas, uma vez que são dos principais elementos utilizados para definir os períodos de ocupação dos sítios, tanto em contextos de escavações como de prospeção. Um dos primeiros exemplos é o estudo sobre a ocupação rural romana do concelho de Elvas, onde se mencionam maioritariamente as Terra Sigillata, pelo seu valor como indicador cronológico (ALMEIDA 2001). Alguns anos mais tarde, para o concelho de Fronteira, foi realizada uma síntese sobre as Terra Sigillata hispânicas tardias da zona, utilizando dados de quatro sítios. Há um enquadramento estratigráfico dos materiais estudados, mas o foco foi exclusivamente dirigido às cerâmicas finas (CARNEIRO y SEPÚLVEDA 2004). Também num estudo sobre os concelhos de Alcoutim e Mértola, na zona do Baixo Guadiana, o foco foram as peças provenientes do norte de África e do mediterrâneo oriental, balizadas entre os séculos V e VIII. Os dados utilizados são provenientes de escavações e prospeções, procurando-se fazer uma análise detalhada das peças em questão (FERNANDES 2012). Sobre a zona do Alto Alentejo, um trabalho mais aprofundado sobre a região, defendido em 2011, analisou o povoamento rural tanto em período romano imperial como tardio e Alto Medieval. O foco do texto não são as materialidades (sendo estas, na verdade, secundárias na análise do panorama geral) mas, quando estas são mencionadas, são na sua maioria Terra Sigillata, utilizadas como referencial cronológico (CARNEIRO 2011). Mas mais recentemente existem estudos sobre a região em que se dá a situação completamente contrária, ou seja, em que se estudaram contextos escavados e em que as cerâmicas finas estão completamente ausentes. Trata-se de um projeto de investigação sobre o povoamento rural alto-medieval no território de Castelo de Vide. Nos diversos sítios escavados, balizados entre os séculos VI e VIII, apenas se identificaram cerâmicas comuns e de armazenagem maioritariamente produzidas local ou regionalmente. A análise dos materiais teve em conta as tipologias, tecnologias de fabrico e as pastas dos recipientes encontrados. É um estudo que trouxe para o debate académico uma nova realidade de ocupação dos espaços rurais (PRATA y CUESTA-GÓMEZ 2017; PRATA 2018).

O estudo dos contextos arqueológicos urbanos durante a Alta Idade Media ficou marcado pelo aumento, a partir dos anos 90, do número de intervenções arqueológicas. Para isto contribuíram o aumento do número de obras, tanto públicas quanto privadas, e o surgimento de várias empresas privadas de arqueologia, para responder à demanda da chamada arqueologia de salvamento. Esse aumento de intervenções permitiu conhecer melhor a evolução da paisagem das principais cidades históricas, mas esta situação não se traduziu num aumento da investigação e publicação das coleções cerâmicas. Em muitos casos são publicadas peças singulares ou coleções parciais, dificultando assim os estudos comparativos sistemáticos. Como muitos dos espólios são obtidos por equipas ligadas a empresas de arqueologia ou por arqueólogos independentes, alguns desses materiais apenas têm condições de vir a ser estudados no contexto de trabalhos académicos (TENTE 2018, p. 68).

Em Braga, muitos dos trabalhos de escavação realizados em finais do século XX pelo campo arqueológico acabaram por vir a ser publicados ao longo do século XXI. São de se destacar os estudos feitos sobre as cerâmicas cinzentas de produção local, peças que imitam modelos de Terra Sigillata importadas, que se constituem como produções significativas para a compreensão do consumo deste tipo de peças no momento em que começou a diminuir o volume de importações cerâmicas. Para além disso, estas produções são as que mais facilmente chegavam aos contextos rurais sendo, portanto, importantes para a datação daqueles contextos (GASPAR 2000; 2003). Outro exemplo dos resultados da investigação realizada em Braga é um guia que apresenta, de forma resumida, todos os diferentes tipos de cerâmicas que foram encontradas na cidade e onde são apresentados desenhos, descrições das tipologias e das produções. Para o período Alto Medieval, apresentam-se peças de cerâmica comum grosseira, cerâmica cinzenta tardia (Ver figura 7) e algumas tipologias de ânforas que se estendem até o século IV (DELGADO y MORAIS 2009). Também é de se realçar um trabalho no qual se apresentam essencialmente Terra Sigillata e as cerâmicas cinzentas de produção regional, balizadas entre os séculos V e VII, provenientes de duas zonas da cidade. É feita a contextualização estratigráfica do espólio, uma descrição dos fabricos e das formas identificadas, e a apresentação dos desenhos das peças e dos perfis estratigráficos (PEÑIN, MAGALHÃES y MARTINS 2014).

Também em Mértola se assiste a uma situação semelhante à de Braga, com o desenvolvimento, pelo Campo Arqueológico, de projetos de investigação específicos sobre a cidade e a sua evolução ao longo dos períodos romano e medieval. Um dos principais trabalhos sobre o sítio é dedicado às cerâmicas islâmicas, incluindo as de período emiral. Apesar de focar principalmente cronologias mais avançadas que o século VIII, é um estudo que trata especificamente sobre materialidades, abordando em pormenor as cerâmicas comuns, com análise tipológica e tecnológica das peças, e o seu significado económico e cultural (GÓMEZ MARTÍNEZ 2004). Um outro importante trabalho para o estudo da cidade, mas menos relevante em termos dos espólios cerâmicos, está dedicado ao período entre os séculos IV e VIII. Sendo sobre cronologias mais relevantes para o presente artigo, é uma tese que trabalha sobretudo com o aspeto arquitetónico e urbanístico da cidade, não tendo como prioridade o estudo dos materiais. Existe apenas a menção de algumas peças de Terra Sigillata e ânforas, mas mesmo assim sem grande destaque (LOPES 2014).

O caso de Conimbriga continua a ser relevante no novo milénio, uma vez que se continuaram a publicar novos artigos publicados nos últimos anos, nos quais se dá maior destaque ao estudo das cerâmicas comuns. Em um deles, dedicado à cerâmica comum tardia, o espólio aparece organizado em três fases distintas, cronologicamente situadas entre os séculos IV e XII. Há algumas menções às Terra Sigillata, particularmente na primeira das fases apresentadas. No geral, são apresentados alguns desenhos das peças mais representativas e uma descrição da evolução de algumas das tipologias (fig. 8) ao longo das fases reconhecidas (DE MAN 2004). Um outro estudo abordou especificamente os alguidares de base em disco e os púcaros, dois tipos de peças muito relevantes que atuam como fósseis-diretores (DE MAN et al. 2014).

A cidade de Coimbra, apesar de estar próxima geograficamente de Conimbriga, possui tendências diferentes em termos dos padrões de ocupação medievais, pois teve uma evolução urbana bastante distinta. O século XXI trouxe desenvolvimentos no que concerne à investigação e ao nosso conhecimento sobre esta urbe em época medieval. Realçamos, como exemplo, um artigo de investigadores ligados à Universidade de Coimbra relativo à análise do espólio cerâmico Alto Medieval recuperado nas escavações do antigo fórum. O enquadramento estratigráfico dos materiais, para além de uma descrição detalhada das tipologias formais e das pastas de cada produção, permite-nos conhecer melhor a evolução da paisagem urbana da cidade entre os séculos IV e VIII (SILVA, FERNÁNDEZ y CARVALHO 2015).

Fig. 7. Cerâmica Cinzenta de Braga. Em DELGADO; MORAIS, 2009, p. 23.

Em relação ao caso de Ammaia, a criação de uma Fundação em 1997 e os apoios que têm vindo a obter, ajudaram a gerar o enquadramento e os incentivos necessários para o desenvolvimento da investigação sobre esta urbe. A maioria das publicações e dos materiais estudados corresponde a cronologias Alto e Baixo Imperiais. No entanto, são conhecidos alguns contextos mais tardios. Pode-se mencionar o estudo sobre as Terra Sigillata, que englobou peças dos séculos IV e V, onde se regista alguma preocupação em enquadrar estratigraficamente as peças estudadas. Focado principalmente na identificação das tipologias de Terra Sigillata e das cronologias associadas a estas, este trabalho procurou identificar o fim da ocupação da cidade (QUARESMA 2013). Mas existem igualmente trabalhos sobre as produções de cerâmica comum de Ammaia, que, tendo descrito morfotipologias e fabricos das peças, não as correlaciona com o respetivo enquadramento estratigráfico (DIAS 2014; 2015).

Ainda que a cidade de Lisboa seja a que regista um maior crescimento do número de obras e intervenções arqueológicas, especialmente a partir do ano 2000, esse crescimento não é acompanhado pelo mesmo crescimento de estudos e publicações (BUGALHÃO 2016, p. 469). Por exemplo, da intervenção da Praça da Figueira, efetuada entre 1999 e 2001, resultaram diferentes trabalhos de investigação, estando um deles dedicado maioritariamente ao estudo das Terra Sigillata hispânicas tardias. Este trabalho não se foca em outras materialidades, mas aborda de forma bastante aprofundada as produções em questão, bem como as suas origens e a relevância no panorama português (RIBEIRO 2010). No entanto, em termos gerais, a maioria dos trabalhos publicados sobre Lisboa são de pequena dimensão e escala, voltados para intervenções especificas. Sobre o espólio cerâmico, analisam-se principalmente os materiais de importação (Terra Sigillata e ânforas), sendo mais raras as menções às cerâmicas comuns. É comum existir alguma contextualização estratigráfica, mas as análises às peças são breves, limitando-se geralmente a uma descrição das morfotipologias e das técnicas de fabrico. São exemplos as publicações das intervenções no Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros e no espaço que pertenceu ao Palácio dos Condes de Penafiel, ambos com cerâmicas balizadas entre os séculos V e VI (GRILO, FABIÃO y BUGALHÃO 2013; SILVA y DE MAN 2017).

Fig. 8. Cerâmica tardia de Conímbriga. Em DE MAN, 2004, p. 469.

Efetivamente há, atualmente, um maior conhecimento sobre as cerâmicas Alto Medievais, particularmente das Terra Sigillatas e ânforas tardias, mas também sobre as cerâmicas comuns, cujo estudo era escasso até o século XXI. No entanto, apesar desses desenvolvimentos, continua a existir um foco, talvez excessivo, no estudo das cerâmicas finas ainda que, em regra geral, estejam em menor quantidade quando comparadas com as cerâmicas comuns e de produção local. As razões para essa realidade são, apesar de tudo, compreensíveis, uma vez que se trata de cerâmicas bem conhecidas e que permitiram aos investigadores uma grande facilidade na identificação de formas, de oficinas de origem e, o mais importante, de cronologias de fabrico, funcionando como fósseis-diretores bastante apurados. Verifica-se assim que a maioria os estudos publicados se referem às Terra Sigillatas. Mesmo as cerâmicas finas de produção local, como são os casos das chamadas cinzentas de Bracara Augusta (DELGADO y MORAIS 2009) ou das chamadas ocre e alaranjadas de Aeminium (SILVA, FERNÁNDEZ y CARVALHO 2015), foram estudadas em comparação com as Terra Sigillatas de importação, definindo-se as cronologias das produções locais com base nas peças importadas que elas procuravam imitar. A partir do final do século V, as Terra Sigillata começam a escassear e em alguns contextos estão já ausentes nessa centúria. A própria existência de produções a imitar as Terra Sigillata norte africanas ou orientais é sinal da dificuldade em aceder às peças importadas, tendo que haver outras alternativas para suprir a demanda por este tipo de cerâmicas (PEÑIN, MAGALHÃES y MARTINS 2014; SILVA, FERNÁNDEZ y CARVALHO 2015). As suas imitações sucedem-lhe e progressivamente desaparecerão dos consumos. Nos sítios rurais o desaparecimento é mais assinalável, sendo exemplo os casos dos Casais Velhos, em Cascais, ou do Castelo de Crestuma, em Vila Nova de Gaia (PINTO et al. 2015; SARMENTO, 2012).

Contrariamente ao que acontece com as cerâmicas finas, onde há um grande esforço e avanço nos estudos, as cerâmicas comuns, de produção local e regional, ainda se encontram pouco conhecidas. Em alguns sítios, tais como Braga, S. Cucufate ou Tapada das Guaritas I, foram realizados estudos mais aprofundados à cerâmica comum (DELGADO Y MORAIS 2009; PINTO 2003; PRATA y CUESTA-GÓMEZ 2017). Trata-se, muitas vezes, de peças de produção local ou regional especialmente em cronologias mais avançadas (séculos VII-VIII). Do que se conhece, denota-se uma tendência para simplificação formal e, ao mesmo tempo, uma alta variabilidade dentro de cada forma, típica das produções locais. Esta localização e regionalização das produções torna necessária a realização de estudos limitados a espaços de menor escala, uma vez que cada região poderá ter suas próprias características. Ainda que as comparações possam ser realizadas, neste tipo de contextos nem sempre são úteis.

Como é salientado por diversos autores (VIEIRA 2006; CARVALHO 2016; CARNEIRO 2016; TENTE y DE MAN 2016; PRATA y CUESTA-GÓMEZ 2017), é necessário um maior número de escavações e projetos voltados para o estudo dos espaços rurais (que ultrapassem o parco conhecimento que apesar de tudo existe sobre as villae), que permitam o reconhecimento das características regionais do povoamento e das produções de cerâmica comum. Só assim se poderão recuperar “novos” fósseis-diretores que possibilitem uma maior precisão cronológica dos contextos e uma melhor caracterização dos sítios rurais alto medievais identificados na prospeção.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo do espólio cerâmico Alto Medieval dentro da historiografia arqueológica durante os séculos XIX e XX, até à segunda metade deste último, ocupou um espaço secundário. A cerâmica foi sendo incluída nas publicações especializadas quando possuía algum valor estético ou artístico. A partir dos anos 60 do século XX, os trabalhos desenvolvidos em Conimbriga por investigadores como J. de Alarcão ou por R. Cortez, em outras partes do norte do país, mudaram a aproximação teórica e metodológica da análise cerâmica. Esta nova fase, que denominamos de tipológica, estava centrada na criação de tabelas tipológicas e na classificação das peças. É o momento em que a cerâmica começa a ganhar uma identidade própria de estudo. Em Portugal corresponde em grande medida a um novo panorama político criado depois de 1974, onde Conimbriga continua a ter um destaque importante, mas foi então acompanhada pelos trabalhos levado a cabo pelos recém-criados campos arqueológicos de Braga e Mértola, e por escavações que ocorriam um pouco por todo o país.

Na última década do século XX há um grande incremento do número de congressos e publicações que abordam o tema das cerâmicas alto medievais sem, no entanto, haver um foco específico neste tema, tal como se viu no caso das já referidas Jornadas de Cerâmica Medieval e Pós-Medieval (CÂMARA MUNICIPAL DE TONDELA 1995; DIOGO 2008; DIOGO y ABRAÇOS 1998; 2003), ou no IV Congresso Internacional de Cerâmica Medieval no Mediterrâneo Ocidental (SILVA y MATEUS 1991).

A atual fase historiográfica do estudo das cerâmicas, a contextual, tem os seus primórdios nesse tempo, mas manifesta-se essencialmente a partir do novo milénio. Verifica-se, ao longo das publicações realizadas no século XXI, que as cerâmicas comuns começam, paulatinamente, a ter uma maior atenção por parte dos investigadores. Novos estudos surgiram, alguns deles a abarcarem coleções totais, outros mais singelos, a englobarem a cerâmica comum em estudos sobre diversos tipos de materialidades ou sobre contextos estratigráficos mais específicos.

Estamos atualmente num momento chave em que devemos definir quais serão as linhas de pesquisa nos próximos anos. Em nossa opinião, é prioritário incentivar os estudos de coleções cerâmicas associadas a contextos estratigráficos bem definidos e datados. Este tipo de trabalho permitiria aos investigadores interessados no período Alto Medieval construir as ferramentas necessárias para reconhecer um registo material que ainda apresenta muitas questões, especialmente cronológicas. A fixação de sequências cronotipológicas para as cerâmicas melhoraria tanto o reconhecimento dos diferentes sítios arqueológicos incluídos neste período quanto a compreensão da sua evolução ao longo do tempo. Seriam diretrizes de análise que permitiriam que a investigação arqueológica portuguesa correspondesse aos parâmetros de qualidade e fiabilidade, alcançados no resto da esfera europeia. É uma diferença que foi progressivamente encurtando nos últimos anos, mas que ainda precisa de mais esforço contínuo em projetos de investigação interdisciplinares e de caráter diacrônico. Além disso, seria necessário integrar melhor os dados da chamada arqueologia profissional, raramente publicados, apesar do alto grau de excelência apresentado por muitos dos trabalhos realizados, dentro do atual debate científico.

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1. Bolseiro de doutoramento da FCT com referência SFRH/BD/137690/2018; Instituto de Estudos Medievais (IEM); Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa. gabrielmvsouza@campus.fcsh.unl.pt

2. Instituto de Estudos Medievais (IEM); Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa. tomascordero@fcsh.unl.pt. Este trabalho foi financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia I.P., no âmbito da norma transitória-DL57/2016/CP1453/CT006.