Dossier

water and landscape
AGUA y TERRITORIO

As transformações socioespaciais e a apropriação territorial da região de Ipeúna, estado de São Paulo, Brasil1

Transformaciones socioespaciales y la apropriación territorial de la región Ipeúna, estado de São Paulo, Brasil

Mara Lígia Scotton de Carvalho
Escola Superior de Tecnologia e Educação de Rio Claro IGCE/UNESP – Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro/SP/Brasil
ligiascotton22@gmail.com

ORCID: 0000-0003-2753-7249

Información del artículo

Recibido: 26/07/2022
Revisado: 19/04/2023
Aceptado: 04/05/2023

ISSN 2340-8472

ISSNe 2340-7743

DOI 10.17561/at.23.7307

CC-BY

© Universidad de Jaén (España).
Seminario Permanente Agua, Territorio y Medio Ambiente (CSIC)

RESUMO
Analisa as transformações socioespaciais e a apropriação territorial da região que abrange o município de Ipeúna e áreas próximas às divisas com seus municípios limítrofes. Estabelece como recorte temporal o período compreendido entre os séculos XVII e XX. Busca respostas para identificar os principais agentes que atuaram no processo de ocupação e na fragmentação do território dessa região. Identifica, compreende e analisa as transformações ocorridas após a constituição dos primeiros caminhos, as terras doadas e acompanha os processos de compra e venda sucedidos por meio dos primeiros registros oficiais de seus desmembramentos; em paralelo contextualizam-se os agentes que ocasionaram a organização desse espaço. O estudo emprega como ferramentas a documentação primária, o embasamento teórico, o relato oral, a iconografia e material cartográfico. Contribui para diminuir as lacunas existentes na historiografia do início da ocupação territorial da região de Ipeúna com o intuito de registrar e fundamentar uma história que ainda não foi escrita.

PALAVRAS-CHAVE: Apropriação Territorial, Ipeúna/SP/Brasil, Transformações, Caminhos, Organização do Espaço.

RESUMEN
Analizan las transformaciones socioespaciales y la apropiación territorial de la región que abarca el municipio de Ipeúna y zonas próximas a los límites con sus municipios limítrofes. Establece como marco temporal el periodo comprendido entre los siglos XVII y XX. Busca respuestas para identificar los principales agentes que actuaron en el proceso de ocupación y en la fragmentación del territorio de esta región. Identifica, comprende y analiza las transformaciones que se produjeron tras la constitución de los primeros caminos, las tierras donadas y sigue los procesos de compraventa que tuvieron lugar a través de los primeros registros oficiales de su desmembración; paralelamente, contextualiza los agentes que provocaron la organización de este espacio. El estudio utiliza como herramientas la documentación primaria, la base teórica, el informe oral, la iconografía y el material cartográfico. Contribuye a reducir las lagunas existentes en la historiografía de la ocupación territorial temprana de la región de Ipeúna con el fin de registrar y fundamentar una historia que aún no se ha escrito.

PALABRAS CLAVE: Apropiación Territorial, Ipeúna/SP/Brasil, Transformaciones, Caminos, Organización Espacial.

Socio-spatial transformations and territorial appropriation of Ipeúna, state of São Paulo, Brazil region

ABSTRACT
It analyzes the socio-spatial transformations and the territorial appropriation of the region that encompasses the municipality of Ipeúna and areas near the borders with its bordering municipalities. It establishes the period between the 17th and 20th centuries as a temporal cutout. It searches for answers to identify the main agents that acted in the occupation process and in the fragmentation of the territory of this region. It identifies, understands and analyzes the transformations that occurred after the constitution of the first roads, the donated lands, and follows the buying and selling processes that took place through the first official records of their dismemberment; in parallel, it contextualizes the agents that caused the organization of this space. The study uses as tools primary documentation, the theoretical basis, oral reports, iconography, and cartographic material. It contributes to diminish the existing gaps in the historiography of the beginning of the territorial occupation of the Ipeúna region, with the purpose of registering and substantiating a history that has not yet been written.

KEYWORDS: Territorial Appropriation, Ipeúna/SP/Brazil, Transformations, Paths, Space Organization.

Transformations socio-spatiales et appropriation territoriale de la région Ipeúna, état de São Paulo, Brésil

RÉSUMÉ
Elle analyse les transformations socio-spatiales et l'appropriation territoriale de la région qui englobe la municipalité d'Ipeúna et les zones proches des frontières avec ses municipalités limitrophes. Il établit comme cadre temporel la période entre le 17e et le 20e siècle. Elle cherche des réponses pour identifier les principaux agents qui ont agi dans le processus d'occupation et dans la fragmentation du territoire de cette région. Il identifie, comprend et analyse les transformations qui ont eu lieu après la constitution des premières routes, les terres données et suit les processus d'achat et de vente qui ont eu lieu à travers les premiers enregistrements officiels de leur démembrement; en parallèle, il contextualise les agents qui ont provoqué l'organisation de cet espace. L'étude utilise comme outils la documentation primaire, la base théorique, le rapport oral, l'iconographie et le matériel cartographique. Il contribue à réduire les lacunes existantes dans l'historiographie de l'occupation territoriale précoce de la région d'Ipeúna afin d'enregistrer et de justifier une histoire qui n'a pas encore été écrite.

MOTS-CLÉS: Appropriation Territoriale, Ipeúna/SP/Brésil, Transformations, Chemins, Organisation Spatiale.

Trasformazioni socio-spaziali e appropriazione territoriale del regione Ipeúna, stato di São Paulo, Brasile

RIASSUNTO
Analizza le trasformazioni socio-spaziali e l'appropriazione territoriale della regione che comprende il comune di Ipeúna e le aree vicine ai confini con i comuni confinanti. Stabilisce come arco temporale il periodo compreso tra il XVII e il XX secolo. Cerca risposte per identificare i principali agenti che hanno agito nel processo di occupazione e nella frammentazione del territorio di questa regione. Individua, comprende e analizza le trasformazioni avvenute dopo la costituzione delle prime strade, le terre donate e segue i processi di compravendita che hanno avuto luogo attraverso i primi documenti ufficiali del loro smembramento; parallelamente, contestualizza gli agenti che hanno causato l'organizzazione di questo spazio. Lo studio utilizza come strumenti la documentazione primaria, le basi teoriche, la relazione orale, l'iconografia e il materiale cartografico. Contribuisce a ridurre le lacune esistenti nella storiografia della prima occupazione territoriale della regione di Ipeúna, al fine di registrare e corroborare una storia che non è ancora stata scritta.

PAROLE CHIAVE: Appropriazione Territoriale, Ipeúna/SP/Brasile, Trasformazioni, Percorsi, Organizzazione Spaziale.

Introdução

Este artigo se ocupa em discutir a história, as conexões do processo de ocupação e o desenvolvimento territorial da região do município de Ipeúna, sendo este um pequeno município do interior do estado de São Paulo, com aproximadamente 7.687 habitantes2 (Figura 1).

Figura 1. Mapa com a localização de Ipeúna e os municípios limítrofes no estado de São Paulo/Brasil

Fonte: Organizado pela autora, com base em mapas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, elaborado e produzido por Giovanna Scotton Degasperi, 2020. https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/sp/ipeuna.html

O recorte espacial também engloba os territórios próximos às divisas com os municípios limítrofes de Piracicaba, Rio Claro, Itirapina e Charqueada, com enfoque para as regiões próximas aos rios Corumbataí, Passa Cinco e Cabeça3. Esses rios servem de marco geográfico para delimitar as terras do município de Ipeúna com os municípios de Rio Claro, Itirapina e Piracicaba, e a região próxima ao ribeirão Vermelho, o qual se delimita com o território do município de Charqueada (Figura 2).

Figura 2. Mapa com a hidrografia do município de Ipeúna/SP

Fonte: Organizado pela autora, com base no mapa de hidrografia elaborado pelo Núcleo de Estudos Agrários. NEA/UNESP, 2019.

A escolha por Ipeúna dentre todos os municípios da região se deu por conta do município ainda não ter sua história fundamentada, tendo como um dos propósitos trazer à luz dos presentes fatos que ajudem a interpretar os elementos de um percurso histórico até então sem registros fiéis para sua comprovação.

Tem como objetivo geral, compreender o início e a consolidação da apropriação territorial e ocupação da região do município de Ipeúna, bem como investigar os vários agentes envolvidos no seu processo de povoamento, a partir da compreensão de sua relação com seu contexto local e regional.

Paralelamente, analisar a contextualização histórica da região de Ipeúna, dentro do recorte temporal estabelecido. Compreender as transformações ocorridas após a constituição dos primeiros caminhos, identificar as primeiras sesmarias, e a partir delas, apreender as fragmentações ocorridas a partir dos registros oficiais das primeiras vendas dessas porções de terras por meio de análises de documentação cartorária e paroquial advindas desses desmembramentos.

Como recorte temporal foi estabelecido o período compreendido entre meados do século XVII até início do século XX4. Em suma, o resgate proposto contribuiu para identificar agentes históricos, sociais, econômicos, políticos, culturais e geográficos que atuaram em seu processo de ocupação e na fragmentação de seu território, ocorridos mais expressivamente entre os séculos XVIII e XIX.

A metodologia aplicada foi permeada pela abordagem qualitativa, que empregou como ferramentas a documentação primária, o embasamento teórico, o relato oral, os materiais de memorialistas, a iconografia e a confecção de material cartográfico. Esses métodos ofereceram base para apreender a espacialidade e o processo de organização territorial ocorridos nessa região, bem como ilustrar as propriedades do passado identificando-as em mapas atuais, para melhor entendimento de suas localizações; e também entender como os fatores históricos, sociais, econômicos, políticos e culturais foram responsáveis pelas transformações ocorridas na região de Ipeúna.

Sobre os relatos orais, estes foram colhidos sem a preocupação da organização de um roteiro. Em sua maioria, as entrevistas foram realizadas com antigos moradores de Ipeúna que se dispuseram a rememorar fatos passados relacionados ao início da formação do município. As informações colhidas traziam fatos sobre o cotidiano dos primeiros moradores, a localização das primeiras propriedades, os acontecimentos políticos, a chegada dos primeiros imigrantes, enfim, foram depoimentos ricos em detalhes que ajudaram a dar o início investigativo em busca de documentos que pudessem fundamentar os fatos narrados. Nesse sentido, utilizou-se a metodologia de análise cruzada das informações coletadas nas entrevistas, no qual evidenciou-se diferentes pontos de vista baseados nos relatos das experiências sociais vividas pelos entrevistados, em sua maioria representados por moradores mais velhos5.

Os trabalhos de Machado6, de memorialistas7 como dos senhores Idajar Martins e Pedro Ferreira também forneceram importantes relatos sobre a história local, da dinâmica processual e sua transformação, com o compartilhamento de suas vivências e experiências. Foram utilizadas também fotografias antigas da coleção da biblioteca municipal de Ipeúna, estas serviram de gatilhos nas entrevistas para que os entrevistados rememorassem fatos e episódios ocorridos no cotidiano da formação do município.

A base teórica para as entrevistas foi seguida de acordo com os princípios de Thompson8, no qual destaca que a história oral é construída em torno de pessoas, portanto, evidencia o valor do passado lembrado, podendo proporcionar informações significativas, muitas vezes únicas, que tem o poder de transmitir características de uma época e avaliar o significado subjetivo da história a longo prazo9.

Desse modo, a avaliação do material proveniente de fonte oral deve considerar a sua coerência interna, a comparação das informações com outras fontes e também deixar claro que os fatos narrados confrontados com documentos são evidências dos acontecimentos em estado bruto, não produzem o fato histórico e não tem voz por si só. A entrevista deve ser interpretada e analisada de um modo mais sensível e racional, sem que haja um apego às informações e aos fatos.

Algumas questões primárias serviram de impulso e nortearam as análises deste estudo, e as principais indagações foram: Quem foram os primeiros moradores dessa região? O que buscavam? Como que a região se desenvolveu a partir dos primeiros caminhos? Foram esses caminhos que motivaram a formação do pequeno povoado?

O ponto de partida se constituiu na reunião de toda a documentação primária, na qual foi possível identificar os elementos que integraram, essencialmente, a fase da ocupação territorial, seu consequente povoamento, e entender todo o processo desde o início de sua formação até as sucessivas divisões ocorridas na ocasião. Conseguiu-se recuperar 200 anos de história, por meio desses documentos, o que ajudou a entender e, especialmente, compreender todas as fases importantes ocorridas nas transformações desse território.

Os documentos primários aprofundaram e fundamentaram o processo investigativo, integrando um cabedal de informações que se somou às fundamentações teóricas e a história oral. No que se refere à análise de dados, Correa10 apresenta alguns pontos fundamentais para uma correta interpretação desses documentos. Nas palavras do autor, deve-se ter cuidado com aspectos fragmentados de algumas bases de dados, em especial as que apresentam escritas à mão, com linguagem difícil e anacrônica, ou que estejam em mau estado de conservação. No caso desta pesquisa, quando esses documentos geraram lacunas, dificuldades interpretativas e inconsistências, optou-se por deixar especificada uma observação sobre a informação incoerente.

O enfoque maior da busca documental primária foram os cartórios de notas e registros de imóveis, inicialmente no município de Rio Claro, depois nos cartórios de Itu e Piracicaba, e também no Fórum da comarca de Rio Claro, os quais desvelaram informações dos primeiros proprietários e a localização das propriedades, por meio das respectivas cartas de sesmarias e escrituras das propriedades. Esses documentos trouxeram relevantes informações que serviram para confirmar o percurso do caminho de Luiz Pedroso pela região que abrange o território onde está inserido o município de Ipeúna.

Em suma, as escrituras públicas são documentos valiosos para o levantamento de dados de uma pesquisa histórica, sendo que trazem pistas dos acontecimentos passados, e de como uma determinada sociedade se comportava com relação às legislações da época. Nesses cartórios foi possível encontrar uma gama variada de assuntos presentes em escrituras de compra e venda, procurações, e cartas de doação de sesmarias.

No que tange à documentação primária a partir do século XVIII, é importante salientar que existe uma lacuna documental e bibliográfica muito grande, tanto de trabalhos acadêmicos como em fontes secundárias que dizem respeito às propriedades e à ocupação territorial paulista entre os períodos do século XVII e XVIII, e há grande dificuldade no acesso aos cartórios e órgãos públicos para se realizar pesquisas documentais referentes a esse período. Esse foi um desafio enfrentado, mas mesmo diante de toda dificuldade se conseguiu reunir grande número de documentos para análises e comparações.

O relato dos métodos empregados no cruzamento de informações por meio da montagem de um banco de dados foi fundamental para melhor compreensão do desenrolar da pesquisa. O ponto de partida foi estabelecer o caminho inverso dos nomes dos proprietários das principais propriedades de Ipeúna, ou seja, buscou-se por informações dos proprietários atuais, e a partir desses nomes desdobraram-se buscas aprofundadas, em períodos mais antigos, de toda a documentação produzida e ainda existente.

Ao pesquisar essa documentação primária, algumas informações inéditas vieram à tona, tais como outras denominações para a região que abrange o município de Ipeúna. Até então essa região, inicialmente conhecida como Campos de Araraquara, ao passar para a jurisdição de Piracicaba se tornou conhecida como Bairro do Corumbataí Acima. Essa informação aparece nos primeiros levantamentos e recenseamentos realizados para essa localidade a partir de 1772, no qual convencionou-se chamar às terras desbravadas próximas ao rio Corumbataí, de bairro Corumbataí Acima.

Nos documentos datados a partir do século XVIII encontrou-se as denominações de Bairro Passa Cinco, para as propriedades próximas ao rio Passa Cinco, e Água Vermelha, para as que estavam próximas ao ribeirão Água Vermelha, na divisa com o município de Charqueada. As terras mais ao norte, próximas à divisa com o município de Rio Claro, denominavam-se inicialmente como “Bairro do Cabeça”, por se localizarem próximas ao rio do Cabeça, que posteriormente ficou conhecido como “Bairro dos Pereiras”.

No que se refere aos caminhos e ao povoamento dos Campos de Araraquara, buscaram-se contribuições nos trabalhos desenvolvidos por Balestrini Filho (1969), Benincasa (2014), Dorizotto (2008, 2017), Dean (1977), Neme (1969, 1974), que permitiram elucidar e responder a questionamentos levantados durante a pesquisa. Outros autores que deram importantes aportes para essa primeira fase foram Diniz (1973), Garcia (2001) e Machado (2004), uma vez que discutiram o processo de ocupação com as doações das sesmarias, concomitantemente com o início das pequenas formações urbanas dos municípios de Rio Claro e Ipeúna.

Diante do exposto, vale reiterar que este trabalho proporcionou melhor entendimento e maior conhecimento sobre a história regional e seus personagens, contribuindo para que essa história não permanecesse somente na memória dos antigos moradores, fornecendo subsídios para que futuras gerações a conheçam e a perpetuem.

Em busca das origens: o início da apropriação territorial da região de Ipeúna/SP

Este estudo se inicia buscando se orientar no tempo e no espaço para fundamentar e interpretar as origens da formação territorial da região onde o município de Ipeúna está inserido, contextualizando os fatos, para fazer entender que tudo começou em meados do século XVII. Naquele período, essa localidade denominava-se Campos de Aracoara11, ou Sertão de Araraquara, que compreendia a área desde a margem direita do rio Piracicaba, até os limites do norte e oeste do estado de São Paulo.

A região dos Campos de Araraquara (Figura 3), mais especificamente onde o município de Ipeúna está inserido passou por diversas jurisdições até ser criado o Distrito de Paz em Santa Cruz da Invernada no ano de 1894, primeira nomeação desse território, conforme demonstrado no Quadro 1.

Figura 3. Região dos Campos de Araraquara, em destaque o município de Ipeúna/SP

Fonte: organizado pela autora, com base em mapa do Google Earth, elaborado e produzido por Giovanna Scotton Degasperi, 2020.

Quadro 1. Divisões jurídico administrativas referentes às terras onde o município de Ipeúna/SP está inserido

Divisões Jurídico Administrativas – Campos de Araraquara / Ipeúna

Até 1797

Pertenceu ao município de Itu

De 1797 a 1822

Porto Feliz

De 1822 a 1842

Piracicaba

De 1842 a 1845

Limeira

De 1845 a 1894

São João Batista de Rio Claro

Em 1894

Criado Distrito de Paz de Santa Cruz da Invernada

Fonte: elaborado por Carvalho, 2020.

Anterior ao século XVIII, a região dos Campos de Araraquara era considerada fronteira natural, devido a sua localização ser próxima à borda interna da Depressão Periférica Paulista12. Destaca Neme13 que Aracoara ou Araraquara também foi o primitivo nome da Serra de São Pedro e do Itaqueri (Figura 3), que representava o limite distante das terras já conhecidas no território da Capitania de São Paulo. As terras além dessa serra eram denominadas sertões, ou seja, terras ainda não desbravadas.

Das pesquisas realizadas foi possível depreender, também, que os paulistas, em geral, seguiam pelo rio Tietê até a bacia do Paraná, navegando em grandes comboios uma vez por ano. Mas, para evitar as febres dos pântanos, muitas tropas seguiam por terra desde a cachoeira do rio Piracicaba, encontrando a cerca de 30 quilômetros ao norte uma passagem mais baixa e erodida, entre os morros denominados de Morro da Gurita, que se localiza em terras do atual município de Ipeúna e o Morro Pelado, em terras do atual município de Itirapina14, conforme destacados na Figura 3.

Pode-se dizer que as trilhas iniciadas pelos indígenas trouxeram até a região dos sertões paulistas seus primeiros moradores, e serviram de base para a construção de outros caminhos utilizados para a circulação de sertanistas e de mercadorias entre a então Capitania de São Paulo até as recém-descobertas minas de Mato Grosso (1718) e Goiás (1725), caminhos estes que cruzavam a região dos Campos de Araraquara.

Ainda com relação aos caminhos15, por volta de 1606, existia uma rota terrestre denominada Caminho Geral, que saía da Vila de São Paulo, passava pelo povoado de Santana de Parnaíba e seguia em direção ao sertão. Em 1610, o referido caminho atingiu a recente povoação de Itu16 e, mais adiante, o porto de Araritaguaba, hoje Porto Feliz (1650)17. Naquele mesmo ano, a rota denominada “Caminho Geral” aproximou-se da incipiente povoação de Capivari e, por volta de 1693, alcançou a região de Piracicaba, até chegar aos Campos de Araraquara.

Para continuar a penetração para o interior, do trecho terrestre de Itu partia um ramal em direção ao sertão denominado Estrada Velha para o sertão dos Bilreiros18. Com relação às terras que se estendiam às margens desse caminho, desde antes de 1650, já havia a presença de posseiros, sitiantes e sertanejos, nas imediações entre Capivari até a região onde se localiza o salto do rio Piracicaba19.

A chamada Estrada dos Bilreiros não foi a única a servir como base para novos caminhos a partir da Capitania de São Paulo. Outros traçados indígenas corroboraram como vias de locomoção nos campos e matas, alicerçando as ramificações da capital paulista aos sertões mais longínquos, ainda inexplorados.

Desse modo, vale assinalar que os governos de Rodrigo Cezar de Menezes (1721-1728) e de Morgado de Mateus20 (1765-1775) foram significativos para o desenvolvimento da região dos Campos de Araraquara. Por intermédio de Rodrigo César de Menezes, iniciou-se em 1723 a construção do caminho que liga a região de Piracicaba até as minas de Cuiabá, o que tornou essa região mais acessível e despertou maior interesse para as concessões de sesmarias21.

Com a gradual ocupação desse território, foi possível perceber que as intenções de Portugal estavam voltadas não somente para o controle de quem iria possuir terras nesses locais, como também ao incentivo de novos descobrimentos auríferos, à organização do abastecimento interno e, substancialmente, à proteção de espaços já conquistados. Nessa conjuntura, em 24 de julho de 1766 Antônio Correa Barbosa é nomeado pelo governador Morgado de Mateus como povoador, com a função de fundar novos núcleos de povoação. Antônio Correa Barbosa fundou a povoação junto ao Salto do rio Piracicaba22.

Do exposto até aqui, entende-se que muitos foram os fatores responsáveis pela ocupação da região de Piracicaba e dos Campos de Araraquara, mas o principal deles foi o acesso obtido por meio dos caminhos, começando com a velha trilha dos indígenas denominados de Bilreiros, que trouxeram os primeiros sertanistas para explorar o sertão ainda desconhecido. Com os boatos de que poderia existir ouro nos morros de Araraquara, e a descoberta do ouro nas regiões mais centrais da colônia, a velha trilha foi dando lugar a outros caminhos que foram se ramificando, permitindo que, ao longo deles, novas áreas fossem desbravadas, valorizadas e ocupadas23.

Assim, o povoamento do interior paulista avançava. A circulação de pessoas, os tropeiros e bandeirantes, aumentaram as paradas ao longo dos caminhos. O percurso era planejado antecipadamente, já se conhecendo os locais certos para cada parada. Esses pousos constituíam-se de ranchos, fazendas, ou até mesmo uma paragem de comércio onde os viajantes e tropeiros encontravam alimentos e alojamentos para si e para suas tropas. Inúmeros povoados se formaram ao longo dos caminhos percorridos pelas tropas por meio da rota de pousos24.

No que tange à organização jurídico-administrativa dos povoados que passaram a existir, é fundamental situar que, inicialmente, a região que compreendia Piracicaba pertencia a Itu e, por alguns anos, toda essa região dos Campos de Araraquara esteve sujeita a duas jurisdições, havendo também territórios que pertenciam a Porto Feliz. É importante evidenciar que as terras do atual município de Ipeúna, em 1818, localizavam-se na região denominada bairro Corumbataí Acima. Esse nome fazia alusão às fazendas, pequenos povoados e posses já estabelecidas e mais afastadas da então Freguesia de Piracicaba, que tinham como referência geográfica o rio Corumbataí25.

Com relação à ocupação dos territórios próximos às divisas do município de Ipeúna com Piracicaba, sobretudo na região dos rios Corumbataí e rio Passa Cinco, foi possível identificar que existia um grande número de posseiros, especificamente nos primeiros quilômetros do rio Corumbataí, a partir de sua foz, seguindo o caminho utilizado pelos paulistas, chegando até a região de Ipeúna. Por ocasião dos rumores do ouro, aumentou a especulação para aquisição de terras na localidade26.

Por meio das análises nos documentos primários referentes as ocupações de terras da região de Ipeúna, se chegou à conclusão de que para sustentar o desbravamento do sertão, a partir de Piracicaba, foi concedido pelo governo um grande número de sesmarias nos Campos de Araraquara, tendo como pontos de referência o rio Piracicaba, o rio Corumbataí e o Morro de Araraquara (Serra de São Pedro e do Itaqueri). A primeira doação nessa região ocorreu em 1782, e as demais tornaram-se mais expressivas entre os anos de 1817 e 1821, garantindo, assim, a posse e ocupação do território e seu cultivo efetivo.

Outrossim, elucida-se que a região onde se localizava o povoado de Ipeúna, a partir do ano de 1853 foi anexada à Vila de São João Batista de Rio Claro27, conforme Lei Provincial no. 04, determinando a marcação de suas divisas territoriais, sendo então denominada como bairro Passa Cinco. São João Batista de Rio Claro ocupava a posição de “boca de sertão”, local de comércio ativo, onde muitos tropeiros paravam para pernoitar e abastecer as tropas antes de prosseguir a viagem para as minas.

Dessa forma, se entende que desde meados do século XVII, data mais longínqua de onde este estudo teve seu ponto de partida, foram necessários quase dois séculos para que a localidade de Ipeúna começasse a ganhar identidade. Com este estudo, buscou-se recontar as transformações ocorridas na paisagem da região, objetivando compreender como aconteceram as fragmentações de seu espaço por conta de vários ciclos econômicos ocorridos durante todo o recorte temporal estabelecido para esta pesquisa, interpretando essa inter-relação entre passado e presente, por meio da reorganização de seu território ocorrido ao longo do tempo.

Sendo assim, evidencia-se que, a partir da primeira trilha constatada, ainda antes de 1650, os caminhos se ramificaram e trouxeram mudanças tanto no contexto econômico, geográfico como também no aspecto da ocupação territorial, permitindo que ao longo deles áreas fossem sendo gradativamente ocupadas, formando pequenos povoados, como vale reiterar, ser o caso de Ipeúna.

Frente ao que foi exposto, assinala-se que os primeiros moradores chegaram até a região dos Campos de Araraquara primeiramente pelo picadão de Luiz Pedroso de Barros em 1723. A procura gradativa por terras sobre essas paragens se intensificaram, também por conta da busca por ouro nos Campos de Araraquara, dada a importância que o referido picadão teve na história do povoamento como sendo a primeira interferência do homem sobre essa região.

As transformações socioespaciais ocorridas na região do município de Ipeúna/SP a partir do século XVIII

Após a descoberta do ouro na região de Mato Grosso, em 1718, muitos foram os interessados em desbravar os sertões, intencionando traçar um caminho por terra para descomplicar a viagem fluvial até a região das minas. Foi a partir de 1723, com o início da utilização do caminho construído por Luiz Pedroso de Barros28 que, efetivamente, intensificou-se o movimento de ocupação da região dos Campos de Araraquara.

Sobre o percurso do picadão de Luiz Pedroso, constata-se que este atravessava de ponta a ponta os Campos de Araraquara, sendo seus morros, na época da abertura do caminho, já bastante conhecidos pelos exploradores, possivelmente por conta das trilhas indígenas previamente existentes nos sertões a partir do rio Piracicaba; o autor considera também que Luiz Pedroso de Barros foi o primeiro explorador dessa região29.

Acerca da trajetória nas terras do município de Ipeúna, seguiu-se as pistas encontradas na carta de doação da sesmaria de Joaquim Antônio de Carvalho, da qual se originou o sítio Invernada. Tanto a carta de doação como a escritura do referido sítio fazem menção ao picadão de Luiz Pedroso, no ano de 1723, e também da estrada melhorada por Antônio Correa Barbosa, a partir de 1770, de onde se derivaram outros caminhos por essa região. Após a passagem por terras onde se originou o município de Ipeúna, subiam margeando o rio Passa Cinco, com passagem entre a serra do Itaqueri e o morro da Gurita, em direção às terras do atual município de Itirapina.

Evidencia-se que a partir da primeira trilha constatada, ainda antes de 1650, os caminhos se ramificaram e trouxeram mudanças, tanto no contexto econômico e geográfico como, também, no aspecto da ocupação territorial, permitindo que ao longo deles áreas fossem sendo gradativamente ocupadas, formando pequenos povoados, como é o caso de Ipeúna.

Vale reiterar que a construção desses caminhos deu, certamente, o impulso inicial para que ocorresse a integração da região dos Campos de Araraquara aos interesses mercantis da metrópole portuguesa. Além dos caminhos, outro fator que colaborou com a valorização das terras, nessa região, foram os boatos que poderia existir ouro nos morros de Araraquara, o que tornou essa localidade alvo de interesse para a aquisição de terras.

As sesmarias doadas para a região dos Campos de Araraquara foram as sesmarias do Corumbataí e do Morro Azul que, além de privilegiarem a ocupação, serviram também para a vigilância e o auxílio ao tráfego do caminho, favorecendo o aproveitamento das terras devolutas, parcelando a grande propriedade e beneficiando a agricultura30.

Frente a tais assertivas, elucida-se que as sesmarias da região dos Campos de Araraquara foram vendidas em glebas, transformaram-se em fazendas, e ao longo do tempo se desmembraram em pequenos sítios. Essa informação se comprova por meio das escrituras encontradas nos Cartórios de 1º. e 2º. Ofício de Piracicaba, que desvelaram os processos de retalhamento das grandes glebas das sesmarias.

A fazenda Quilombo foi a primeira propriedade a ser desmembrada da sesmaria de Francisco Galvão de França. Na escritura, que data de 04 de setembro de 182531, constava que Estevão Cardoso de Negreiros comprou do capitão mor Francisco Galvão de França “uma terra de meia légua em quadrado no bairro de Corumbataí”, ou seja, 3.300 metros quadrados (Figura 4).

Figura 4. Escritura de venda e compra da fazenda Quilombo

Fonte: Museu Republicano Convenção de Itu. 1º. Cartório de Itu, livro 25, 100v. 1825.

As pistas coletadas nesses documentos auxiliaram na formação de um banco de dados com os nomes dos primeiros proprietários de terras do município de Ipeúna. Com base nessas informações, se foi descobrindo aos poucos onde as propriedades se localizavam. Em alguns casos, não foram encontradas as datas precisas das propriedades, mas com os nomes que apareciam como confrontantes foi possível identificar e localizar com segurança a maioria delas.

O bairro Corumbataí acima e bairro Passa Cinco e a trajetória do povoado de Santa Cruz da Invernada

A partir da primeira doação de sesmarias para a região do rio Corumbataí, ocorrida em 1795, aos poucos o espaço antes tido como devoluto deu lugar a propriedades que consolidaram o desenvolvimento econômico, inicialmente com a implantação da lavoura canavieira.

No que se refere à denominação dos bairros que pertenciam à jurisdição de Piracicaba, nos primeiros levantamentos e recenseamentos realizados para essa localidade a partir de 1772, convencionou-se chamar às terras desbravadas próximas ao rio Corumbataí, de bairro Corumbataí sendo as terras próximas a Piracicaba e bairro Corumbataí Acima, compreendia os pequenos povoados, fazendas e posses ao longo do rio Corumbataí. As terras que abrangiam o bairro Corumbataí Acima eram mais afastadas da povoação de Piracicaba, seguiam o rio Corumbataí, abrangendo as imediações onde hoje se encontram os municípios de Ipeúna, Charqueada e uma parte do município de Rio Claro32.

Sobre as denominações encontradas nos documentos analisados para o território de Ipeúna, desvelaram-se informações de propriedades localizadas no bairro Passa Cinco, ou seja, próximas ao rio Passa Cinco33, sobretudo na região onde há o encontro das águas dos rios Passa Cinco e Corumbataí. O documento mais antigo encontrado, fazendo menção ao nome Passa Cinco, foi o primeiro registro de batismo emitido pela capela curada de São João Batista de Rio Claro, datado de 24 de junho de 1828, onde se diz que esses eram “moradores no Passa Cinco34.

Foram reveladas também denominações de propriedades localizadas na Água Vermelha, próximas ao ribeirão da Água Vermelha, estabelecidas na porção sul/sudoeste do município. E, ainda, propriedades situadas no bairro do Cabeça, próximas ao rio Cabeça, que se fixaram desde a porção sudeste até o norte, e que delimita os municípios de Ipeúna, Rio Claro e Itirapina. (Figura 5)

Figura 5. Mapa com as três primeiras grandes propriedades no território de Ipeúna/SP

Fonte: Organizado por Carvalho, com base no mapa de hidrografia elaborado pelo Núcleo de Estudos Agrários, NEA/UNESP, 2019.

Portanto, isso comprova que as glebas eram preferencialmente demarcadas com base em córregos, rios e espigões, que além de servirem de referência geográfica para localização, agregavam valor à terra por favorecerem o desenvolvimento da agricultura e de pastagens. As regiões próximas aos rios Passa Cinco e Corumbataí chamavam a atenção daqueles que tinham a intenção de instalar engenhos em suas propriedades, além da abundância das águas oferecidas pelos rios, havia grandes áreas para pastagens de gados, terras férteis para o plantio da cana de açúcar e para as lavouras de subsistência.

Outrossim, além das qualidades descritas acima, somavam-se para a região os caminhos constituídos, mesmo que ainda precários para o período, que garantiam autonomia para o escoamento da produção agrícola. Todos esses fatores tornaram a localidade conhecida e bastante procurada, o que ocasionou a consequente valorização e manutenção da organização espacial instituída.

Sobre a agricultura praticada nas propriedades da região, esta primeiramente se desenvolveu com base na introdução da lavoura canavieira, principalmente a parte de 1817. A partir de 1850, o açúcar foi cedendo lugar para o café, aproveitando-se da estrutura e organização já existente da cultura canavieira. Outrossim, no que se refere à agricultura praticada por essas fazendas, Prado35 descreve que a agricultura teve papel primordial na ocupação e exploração no interior paulista.

Para a região de Ipeúna, foram doadas as sesmarias de Francisco Galvão de França, em 07 de abril de 181636, e de Joaquim Antônio de Carvalho37, em 10 de outubro de 1817, ambas pertencentes ao grupo das sesmarias do Corumbataí. O restante do território era compreendido por uma grande posse em nome de Manoel José Cabeça que foi legalizada com o nome de fazenda Ribeirão do Cabeça, por volta de 183938. De forma inédita, descobriu-se que o rio que passa por essa região tem a denominação de rio Cabeça por conta do nome do proprietário dessa grande posse.

Pode-se dizer que foi a partir dos desmembramentos da sesmaria de Francisco Galvão de França que nasceram as primeiras propriedades do território de Ipeúna, localizadas próximas ao encontro dos rios Corumbataí e Passa Cinco, onde se instalaram as primeiras fazendas produtoras de açúcar, que alavancaram a economia, trazendo progresso, desenvolvimento, e novos moradores para a região, o que aos poucos ia dando forma aos novos povoados de São João Batista do Rio Claro (hoje município de Rio Claro) e, posteriormente, de Santa Cruz da Invernada (hoje município de Ipeúna).

No que diz respeito aos desmembramentos da sesmaria de Joaquim Antônio de Carvalho, foram destacadas apenas as escrituras das propriedades que se localizavam no território de Ipeúna, próximas ao ribeirão Vermelho. O desmembramento de maior relevância para este estudo foi o ocorrido em 24 de fevereiro de 1840, no qual Anna Maria Caldeira, Francisca de Paula Caldeira (viúva de Joaquim Antônio De Carvalho), Gastão Caldeira Brant de Carvalho e sua mulher Umbelina Teresa Prestes, venderam para Tristão de Abreu Rangel, terras que “[…] cobrem o ribeirão da Charqueada […]”39, pelo que se conclui que essas terras ultrapassavam o ribeirão, alcançando terras localizadas dentro do território de Ipeúna.

A partir desse desmembramento, chegou-se à escritura de compra e venda realizada em 02 de agosto de 1852, segundo a qual João Baptista dos Santos vendeu para Antônio Pedrozo do Amaral40, que efetuou o registro da propriedade com o nome de sítio Invernada, em 1856. Na transcrição, foram encontradas valiosas informações. A primeira delas é a comprovação da passagem da estrada de Luiz Pedroso de Barros (Estrada velha) e também o caminho melhorado, de Antônio Correa Barbosa, pelo local; a segunda refere-se à constatação de que essa propriedade derivava da sesmaria de Joaquim Antônio de Carvalho, precisamente da gleba vendida em 1840 para Tristão de Abreu Rangel; e a descrição das delimitações com os nomes dos confrontantes permitiu saber com exatidão a localização dessa propriedade no território hoje existente.

Principiam em huma porteira que se acha no caminho que vai para Raymundo e d’ahi a seguir huma picada que vai ter a ponta do espigão pelo lado direito divisando com o mesmo Raymundo, e pelo mesmo espigão com o Doutor José Elias, José Luís e outros e deste ponto faz quadra a esquerda para hum pequeno espigão que fica em rumo da divisa do Cardozo como dito José Luíz e outros até chegar em hum córrego, e sobe água acima até hum caminho velho, e dahi a rumo direito até huma baixada que existe na estrada velha mais perto do Cardoso, com quem divide e d’ahi faz quadra a direita pelo espigão, divisando com Vicente Barbosa e João Allemão até chegar a huma pedra branca que é poceção da sesmaria do finado Joaquim Antônio de Carvalho por venda que fez a Tristão de Abreu Rangel […] 41

No período em que foi registrada com o nome de sítio Invernada, essa propriedade estava localizada na vasta região que pertencia ao território de São João Batista de Rio Claro, nas proximidades da Serra do Itaqueri, no bairro denominado Água Vermelha.

A história do sítio Invernada se mescla com a origem do povoado de Ipeúna, uma vez que este último se iniciou em terras do referido sítio. Ao continuar a narrativa da análise documental a partir da escritura de Anna Maria Caldeira para Tristão de Abreu Rangel de 24 de fevereiro de 1840, foi possível identificar que a propriedade foi posteriormente comprada por João Baptista dos Santos e sua mulher Francisca de Aguiar.

Os documentos pertencentes ao sítio Invernada se encontram anexados ao Processo de divisão e demarcação das terras do sítio Invernada, movido por Samuel Draesbach42, em 25 de novembro de 1896. Nos volumes, foram localizados a escritura de compra e venda da propriedade, os inventários de Antônio Pedrozo do Amaral, de sua esposa Anna Maria de Jesus, bem como os nomes dos herdeiros, que após o falecimento de seus pais foram vendendo a propriedade para diversos compradores, denominados no processo como condôminos.

Encontra-se também no processo um mapa com memorial descritivo, informando a metragem de 638,747 alqueires, bem como os nomes de todos os coproprietários que foram adquirindo as porções de terras vendidas pelos herdeiros. Importante notar que nesse mapa já se observava um arruamento composto de aproximadamente 14 quadras, quase todas ocupadas. Eram as primeiras ruas do povoado que se iniciava, já esquadrinhadas em terras de propriedade do Sítio Invernada. (Figura 6).

Figura 6. Mapa do sítio Invernada

Fonte: processo de divisão e demarcação do sítio Invernada, 1896. Foto tirada pela autora no Museu Municipal de Ipeúna/SP, 2014.

Por meio de narrativas de antigos moradores, foi possível descobrir que antes mesmo do ano de 1850 já existia no povoado uma antiga e pequena capela de taipa, localizada à frente do local onde se encontra hoje a atual igreja matriz. Pode-se dizer que esse povoado começou a se formar na rota dos primeiros caminhos por onde os exploradores e tropeiros passavam e faziam pouso. No local de passagem construíram a capelinha, e à frente dela colocaram uma grande cruz de madeira. A cruz de madeira e as incipientes ruas dentro da propriedade do sítio Invernada foram a inspiração para denominar o lugar de Santa Cruz da Invernada, sendo esse o primeiro nome do município de Ipeúna.

Mais tarde, em 1897, a região teve o nome substituído para Distrito de Paz de Passa Cinco, em alusão ao rio que permeia a cidade. Não obstante, em 1906, mais uma vez, a denominação foi trocada para Ipojuca43 e, por fim, somente em 1944, passou a ser conhecida como Ipeúna44.

Cabe lembrar que por meio da lei no. 8.092, em 28 de fevereiro de 1964, Ipeúna foi elevada à categoria de município, desmembrando-se de Rio Claro com todas as autonomias, as quais viabilizaram, já em 1965, a realização da primeira eleição para o dia 07 de março, ocorrendo a posse no dia 21 de março do mesmo ano.

Toda essa contextualização teve por objetivo compreender como foi ocorrendo ao longo do período estabelecido como recorte temporal o início e a consolidação da apropriação fundiária, expondo os vários agentes envolvidos no seu processo de povoamento. Se percebe ao longo das análises apreendidas o quanto a região foi se moldando e transformando na medida em que fatores políticos e econômicos interferiram no seu desenvolvimento.

Considerações finais

Ao longo das análises empreendidas e realizadas durante o período deste estudo, pôde-se perceber o quanto a região foi se transformando à medida em que era povoada. Compreendeu-se que os ciclos econômicos, políticos e sociais foram responsáveis por moldar e transformar a paisagem, até que se apresentasse como se pode vê-la nos dias atuais.

Desse momento em diante, por conta da apropriação fundiária, inúmeras transformações ocorreram na paisagem da região de Ipeúna. A começar pela primeira trilha constatada antes do século XVII, a partir dela, os caminhos se ramificaram e se constituíram numa teia de comunicação, ligando vários pontos longínquos, e foram responsáveis por mudanças tanto no contexto econômico e geográfico como também no aspecto da ocupação territorial, permitindo que, especialmente ao longo deles, áreas ocupadas abrolhassem, como foi o caso de Ipeúna. Com os “caminhos”, chegaram os primeiros sesmeiros, e consequentemente a barreira natural, havida até então, começou a ser rompida.

Outra transformação foram as doações das sesmarias para a região dos Campos de Araraquara. Por meio das investigações nas cartas de sesmarias doadas foi possível identificar a evolução da apropriação territorial, bem como pontuar e localizar as primeiras propriedades. Conseguiu-se rastrear documentos constantes de um período de quase duzentos anos, a partir das primeiras cartas de doação até as escrituras dos sucessivos desmembramentos ocorridos posteriormente. Para a região de Piracicaba e dos Campos de Araraquara, ao todo foram investigados 117 processos de sesmarias.

Essa criteriosa pesquisa desvelou que as doações das sesmarias se deram em dois momentos cronológicos. As mais antigas, doadas ainda quando a região se denominava Campos de Araraquara, em meados do século XVIII, ocorreram por conta da procura de ouro, sendo doadas especialmente para militares, como forma de melhor controle do sertão ainda inexplorado, já que grandes riquezas poderiam ser descobertas. Já as sesmarias doadas a partir do século XIX, estavam relacionadas à exploração agrícola, ao povoamento e urbanização nas partes vazias do território paulista, locais esses que deram origem aos municípios de Piracicaba, Rio Claro, Ipeúna, Charqueada e Itirapina.

É importante, pois, salientar a importância deste estudo que possibilitou conhecer, avaliar e localizar as sesmarias de Piracicaba, do Corumbataí e as do Morro Azul, trazendo para a atualidade dados inéditos sobre a apropriação territorial de boa parte do interior do estado de São Paulo, tendo como base os documentos primários, que por sua vez, são incontestáveis.

A análise dos documentos primários permitiu reconhecer, descrever e explicar essas transformações por meio das confrontações com o material dos memorialistas e a história oral; tais verificações, atreladas à metodologia de abordagem qualitativa, que foram realizadas conforme estão descritas na introdução deste artigo, permitiram chegar à conclusão de que é preciso ter o conhecimento histórico regional, para se atribuir importância ao conceito da transformação local.

No caso deste estudo, vale salientar que a coleta de dados, para compreender o início da apropriação territorial de Ipeúna, ocorreu com a análise cruzada da memória de seus antigos moradores com documentos primários, de acordo com os termos e as classificações de Thompson45 o que nos possibilitou trazer à luz dos presentes, fatos que ajudaram a interpretar os elementos de um percurso histórico até então sem registros fiéis que o fundamentassem.

A reunião de todos esses elementos contribuiu para o entendimento das diferentes interfaces que ocasionaram as transformações de suas paisagens por inúmeras gerações, a partir da compreensão de sua relação com os acontecimentos não só locais, mas também regionais, abrangendo grande parte do interior paulista.

Por fim, entende-se que o passado não pode ser visto com o olhar do presente, mas com o olhar do passado, o que implica em compreender as práticas, leis e modelos da época em que esses documentos foram produzidos, e interpretá-los de acordo com as camadas de temporalidade.

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1 Texto elaborado a partir dos resultados da pesquisa para a dissertação de mestrado intitulada “Caminhos e trajetórias: Uma retrospectiva histórica da formação territorial de Ipeúna/SP”, sob orientação da Profa. Dra. Darlene Aparecida de Oliveira Ferreira. IGCE/UNESP – Instituto de Geociências e Ciências Exatas - Programa de Pós Graduação em Geografia. Bairro Bela Vista, Campus de Rio Claro/SP/Brasil.

2 População estimada para o censo de 2020. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/ipeuna/panorama

3 A título de esclarecimento, todos os rios citados na pesquisa passam pelo território de Ipeúna e próximo a eles se desenvolveram as primeiras apropriações territoriais do município.

4 Com relação ao recorte temporal, estabeleceu-se o ano de 1650 como início do período delimitado, por ser a data do registro da primeira propriedade em que consta a passagem do caminho que vinha de São Paulo e passava pela região do município de Ipeúna. Dorizotto, 2008, 27.

5 Thompson, 1998.

6 Machado, 2004.

7 As obras memorialistas consultadas consistem em relatos de antigos moradores, colhidos pelos autores citados, que narram fatos, histórias e depoimentos das transformações ocorridas em todo território do município de Ipeúna. Foram transcritos de maneira simples em cadernos escritos à mão. Consistem, portanto, em documentos não oficiais por não terem sido produzidos de modo metódico segundo as regras de publicações acadêmicas. O senhor Idajar Martins produziu no ano de 1999 o trabalho intitulado “A história que o povo conta” e “Ipeúna 40 anos”. E o senhor Pedro Ferreira produziu em 1965 uma coletânea de contos, história e poesias, que serviram de base para.

8 Thompson, 1998, 21.

9 Thompson, 1998.

10 Correa, 2018, 27.

11 Conforme denominação indígena, o nome “Araraquara”, em tupi-guarani, é formado por dois radicais: “ará” significa dia, e “coara”, toca ou morada, buraco. Juntos significariam morada do sol ou do dia. Essa é a versão mais aceita, porém, há uma outra, que diz que os radicais usados seriam “arara”, que significa arara, a ave, e “coara”, morada, buraco; que resultaria em buraco ou toca das araras. Também consta que os índios denominados Guaianases, eram moradores da região, chamavam-na de “aracoara” ou morada do sol, pois acreditavam que como o sol nascia atrás dessa escarpa, ali seria sua morada. Benincasa, 2014, 44-45.

12 O relevo do estado de São Paulo é formado, a partir do Leste, por um faixa de terras mais altas, seguida por uma área rebaixada e aplanada, tradicionalmente conhecida como Depressão Periférica Paulista, e por um conjunto de terras mais ou menos uniformes, aplanadas e altas, que cobrem quase todo o interior do Estado. Valente, 2001.

13 Neme, 1974, 75.

14 Dean, 1977, 21.

15 Neme, 1969, 35.

16 Com relação ao município de Itu, em 1610 foi erigida uma capela, havendo já um pequeno povoado; em 1644, foi elevado a Capela Curada; em 1653, elevado a Freguesia; em 1657, elevado a Vila; em 1811, elevado a cabeça de Comarca e, em 1842, elevado a município. Dorizotto, 2017.

17 Em 20 de dezembro de 1797, Araritaguaba foi elevada à categoria de Vila, mudando sua denominação para Porto Feliz. Na ocasião, ainda pertencia à comarca da Vila de Itu, sendo desmembrada em 31 de outubro de 1797.

18 Os Bilreiros eram índios também eram conhecidos como Caiapós, e viviam na vasta região que se estendia a noroeste da vila de São Paulo, ao norte de Cuiabá e a leste e norte de Goiás. Dorizotto, 2008, 27.

19 Neme, 1974.

20 Morgado de Mateus nos dez anos de seu governo, foi um incentivador da agricultura com o emprego do arado, da adubação com esterco animal e com a criação das feiras livres para venda direta dos produtos para a população. Defendeu a substituição do trabalho escravo nas lavouras, e era contra a derrubada e queima indiscriminada de matas. Buscou reunir os povoados dispersos fomentando a distribuição de pequenas glebas de terras para os agricultores próximas às vilas. Estabeleceu a fundição de ferro para fabricação de ferramentas e armas. Introduziu o censo anual dos moradores das propriedades rurais e os levantamentos cartográficos da capitania. Fundou e apoiou a criação de novos aglomerados humanos como o de Piracicaba. Dorizotto, 2008, 83.

21 Balestrini Filho, 1969.

22 Dorizotto, 2008.

23 Carvalho, 2021, 52. Dorizotto, 2008. Neme, 1974.

24 Carvalho, 2021, 54. Belotto, 2010. Holanda, 1976.

25 O rio Corumbataí é um afluente do rio Piracicaba, fazem parte da bacia do rio Corumbataí as sub-bacias do Alto Corumbataí (31.802 ha), do Médio Corumbataí (29.317 ha), do Baixo Corumbataí (28.725 ha), do Ribeirão Claro (28.175 ha) e do Passa Cinco (52.758 ha). A sub-bacia hidrográfica do rio Passa Cinco, compreende os municípios de Itirapina (24.976,76 ha), Ipeúna (14.245,21 ha), Rio Claro (7.423,03 ha) e Corumbataí (6.099,44 ha). A área do município de Ipeúna é de 19.001,00 ha., o que corresponde a 11,18% da área da Bacia do Rio Corumbataí e a 36,01% da área da sub-bacia do rio Passa Cinco. Valente, 2001.

26 Dorizotto, 2008, 83.

27 Sobre São João Batista de Rio Claro, em 10 de junho de 1827 o pequeno povoado foi elevado à categoria de Capela Curada, a localidade nesse momento chamava-se bairro da Capela de São João Batista de Rio Claro e sua capela atendia pelo nome de Capela de São João Batista do Ribeirão Claro; pelo decreto imperial de 09 de dezembro de 1830, foi elevada à categoria de Freguesia com a criação do distrito de São João Batista de Rio Claro, ainda pertencendo ao município de Piracicaba; em 1845, foi elevada a Vila de São João do Rio Claro; em 1857, foi elevada à categoria de Cidade, seu território pertencia inicialmente a Constituição (Piracicaba) até 1842, quando foi anexada ao território de Limeira, pertencendo a este até 1857. Obteve a denominação de Rio Claro somente em 20 de dezembro de 1905, conforme lei estadual no. 975. Penteado, 1978, 22.

28 Luiz Pedroso de Barros, também conhecido como Luiz Pedroso Castanho, filho de Lourenço Castanho Taques, “o Moço”, e Maria de Araújo, teve seu reconhecimento com a participação da luta contra os emboabas. Herdara dos pais e avós a riqueza e, também, a vocação e a essência dos bandeirantes. Casou-se com Agostinha Rodrigues, e faleceu em 1760 sem deixar herdeiros. Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo, 1901, 83.

29 Balestrini Filho, 1969, 99.

30 Carvalho, 2021, 128.

31 Escritura consultada no Museu Republicano Convenção de Itu, expedida pelo 1º. Cartório de Itu, livro 25 f. 100v.

32 Dorizotto, 2017, 47.

33 Rio Passa Cinco é um importante afluente do Rio Corumbataí, que por sua vez é afluente do Rio Piracicaba; suas águas percorrem os municípios de Itirapina e todo o município de Ipeúna. As cabeceiras encontram-se na serra do Itaqueri, no município de Itirapina-SP, e deságua no Rio Corumbataí, no Distrito de Paraisolândia, pertencente ao município de Charqueada, SP. Carvalho, 2021, 170.

34 Penteado, 1978, 44.

35 Prado, 1977, 24.

36 A sesmaria de Francisco Galvão de França era uma gleba extensa, que compreendia partes dos municípios de Piracicaba, Rio Claro, Charqueada e Ipeúna. Carvalho, 2021, 181.

37 A sesmaria de Joaquim Antônio de Carvalho abrangia partes do município de Charqueada, e Ipeúna. Carvalho, 2021, 185.

38 Neme, 1974, 115.

39 Escritura pesquisada no Museu Republicano Convenção de Itu, expedida pelo 1º. Cartório de Itu, livro 36, 133-134.

40 Conforme escritura de compra e venda expedida pelo Tabelião Público Judicial e Notas de São João Batista de Rio Claro, processo 43, 31-33, maço F-10, consultado no Fórum da Comarca de Rio Claro.

41 Conforme escritura de compra e venda expedida pelo Tabelião Público Judicial e Notas de São João Batista de Rio Claro, em 1852, que atualmente se encontra no processo 43, 31-33, maço F-10 no Fórum da Comarca de Rio Claro.

42 O Sr. Samuel Draesbach era natural de Wilkes-Barre, situado no Distrito de Luzerne, na Pensilvânia (Estados Unidos da América), possuía diversas propriedades no município de Ipeúna, não deixou herdeiros, e todas as suas propriedades foram doadas, segundo relatos do Sr. Pedro Ferreira. Machado, 2004.

43 Conforme denominação indígena, o nome “Ipojuca”, em língua tupi-guarani significa “água suja”.

44 Para o nome Ipeúna existe mais de uma interpretação, ou seja, explicação do seu significado. Foi encontrada uma escritura datada de 1856, da localidade, constando a descrição “pau de piúna”, na busca pela definição da palavra “piúna” que, no dicionário, consta ser árvore silvestre com flores amarelas, mais conhecida como ipê. Na denominação tupi-guarani, se escreve “Ypé úna”, que significa, ipê preto, ou seja, árvore de casca preta, que era encontrada em abundância pela região de Ipeúna, motivo pelo qual foi dado esse nome à cidade. Carvalho, 2021, 223.

45 Thompson, 1998.