Romances e provérbios na literatura portuguesa quinhentista: o caso de «erros por amores»1
Romances and proverbs in the Portuguese literature of the 16th century: the case of «erros por amores»
Ana SIRGADO
(Instituto de Estudos de Literatura e Tradição, Universidade Nova de Lisboa)
https://orcid.org/0000-0002-2419-6525
RESUMO: O verso «que los yerros por amores | dignos son de perdonar» marca presença frequente nas letras portuguesas do século XVI, sob formas mais ou menos reelaboradas do ponto de vista discursivo e semântico, havendo ainda provas da sua utilização no período seiscentista para a alusão a «Media noche era por filo». Porém, nos casos em que a fórmula surge isoladamente de outros elementos do tema protagonizado por Conde Claros, em obras como a Comédia Eufrosina ou a Comédia Ulissipo de Jorge Ferreira de Vasconcelos ou ainda a Comédia dos Estrangeiros de Francisco Sá de Miranda, coloca-se a hipótese de se tratar da presença da forma proverbial, recolhida no Vocabulario de refranes y frases proverbiales de Gonzalo Correas, e não de uma menção ao romance. Este estudo procura determinar a circulação autónoma da expressão em Portugal, também à luz de novos dados que aqui são divulgados.
PALABRAS CLAVE: Romanceiro, Paremiologia, Conde Claros, Literatura Portuguesa do Século XVI
ABSTRACT: The verse «que los yerros por amores | dignos son de perdonar» is a constant presence in the Portuguese literature of the 16th century, more or less recreated from a discursive and semantic point of view, and there is still evidence of its use in the 17th century alluding to «Media noche era por filo». However, in cases where this expression appears separated from other elements of the ballad that stars Conde Claros, in works such as Comédia Eufrosina or Comédia Ulissipo by Jorge Ferreira de Vasconcelos or even Comédia dos Estrangeiros by Francisco Sá de Miranda, we might be in the presence of the proverb collected by Gonzalo Correas in the Vocabulario de refranes y frases proverbiales. This study seeks to determine the autonomous circulation of this expression in Portugal, also in the light of new data published here for the first time.
KEYWORDS: Pan-Hispanic Ballad, Paremiography, Count Claros, Portuguese Literature of the 16th Century
A vasta fortuna antiga do romance «Media noche era por filo» tem sido objeto de numerosos estudos e é hoje amplamente conhecida. A extensa fixação do tema pela imprensa dos séculos XVI e XVII, em volumes impressos e folhetos de cordel2, as múltiplas glosas e a conservação de diversas versões musicadas foram já examinadas por Vicenç Beltran, que analisou a presença do ciclo romancístico dedicado às aventuras amorosas de Conde Claros de Montalbán em ambiente cortesão, bem como o papel deste corpus para o conhecimento da transmissão e circulação antigas da balada pan-hispânica (Beltran, 2018 e 2019).
Não obstante o intenso convívio das cortes portuguesa e castelhana e os testemunhos do conhecimento em Portugal deste género épico-lírico de raízes medievais, a rareza da impressão quinhentista das manifestações do romanceiro antigo foi antes apontada como prova da sua escassa circulação no período em território português, por oposição ao que se verificou em Espanha. Carolina Michaëlis de Vasconcelos foi a primeira estudiosa a contestar este pressuposto de forma sistemática. De facto, no notável catálogo Romances Velhos em Portugal (Vasconcelos, 1980), divulgado no final da primeira década do século XX, a filóloga dedicou-se ao elenco de um procedimento criativo, indício da popularidade e difusão antigas do romanceiro: a menção e alusão a romances velhos nas letras portuguesas dos séculos XV a XVII. Já então, Dona Carolina destacava, neste corpus, a evidência da familiaridade com o romance protagonizado por Conde Claros e o apreço pelo canto do tema, apontando para um traço do caráter português: «Não sei, se em virtude do assunto, naturalmente simpático a essa nação de apaixonados, ou porque as toadas eram superiores às dos outros romances» (Vasconcelos, 1980: 150-151).
Mais recentemente, Teresa Araújo examinou os romances presentes no Cancioneiro geral de Garcia de Resende e concluiu ser «Media noche era por filo» um dos temas novelescos eleitos dos poetas (Araújo, 2015: 42). Comprovou ainda, numa outra ocasião, a recriação que dele faz João Rodrigues de Sá nesta coletânea da poesia produzida no contexto áulico português do final do século XV e inícios da centúria seguinte (2014: 7). A mesma estudiosa analisou também a incorporação do mesmo romance por D. Francisco de Portugal em «Pues que a Portugal partís» (Araújo, 2019). As demonstrações da notoriedade e circulação do tema abrangem, portanto, um extenso período, cuja fixação se inicia com a poesia palaciana impressa em 1516 e se prolonga até à produção poética barroca.
O trabalho de alguns investigadores posteriormente à publicação do catálogo de Carolina Michaëlis de Vasconcelos (Eugenio Asensio, Giuseppe Di Stefano, Aida Fernanda Dias, Pere Ferré, Teresa Araújo e a equipa do projeto Teatro de Autores Portugueses do Século XVI, desenvolvido no Centro de Estudos de Teatro da Universidade de Lisboa sob a coordenação de José Camões) tem sido fundamental para a identificação de novos intertextos e para a análise crítica da funcionalidade e efeitos da presença destas interpolações nos novos contextos literários. No entanto, este estudo foi sempre parcelar. O projeto de investigação RELIT-Rom Revisões literárias: a aplicação criativa de romances antigos (sécs. XV-XVIII), coordenado por Teresa Araújo e desenvolvido no Instituto de Estudos de Literatura e Tradição da Universidade Nova de Lisboa, surgiu para responder a esta lacuna e proceder à revisão sistemática e à atualização dos Romances Velhos em Portugal de Dona Carolina. A base de dados constituída no âmbito deste programa consiste no único catálogo atualizado da presença do romanceiro velho nas letras portuguesas do referido período e no primeiro em ambiente digital3.
Segundo os dados de que hoje dispomos neste catálogo, «Conde Claros preso» (IGR: 0366) apresenta-se como o romance com o maior número de entradas (20, até ao momento), o que parece confirmar a notoriedade reconhecida ao tema. A maioria das menções feitas a «Media noche era por filo» nas letras portuguesas dos séculos XV a XVII consiste na integração da famosa expressão «que los yerros por amores | dignos son de perdonar»4, mais ou menos recriada do ponto de vista discursivo e semântico. Com efeito, esta incorporação corresponde a 14 do total de 20 referências elencadas na base RELIT-Rom, o que representa 70% da presença de «Conde Claros preso» no corpus supramencionado.
Esta utilização de «que los yerros por amores | dignos son de perdonar» em textos literários de autores portugueses dos séculos XV-XVII pode ser agrupada em duas categorias distintas: por um lado, obras em que a presença deste enunciado coincide com a de outras alusões a «Conde Claros preso» e, por outro, obras em que a fórmula surge isoladamente de qualquer outro elemento do romance. O primeiro grupo, composto pelo Auto del Rei Seleuco de Luís de Camões, a composição poética anónima «A sentença ya he dada», coligida no Cancioneiro de Corte e de Magnates do século XVI, e «Pues que a Portugal partís» de D. Francisco de Portugal, distingue-se, desde logo, pela evidência que proporciona sobre o conhecimento do romance por parte dos autores que o reelaboram criativamente5. O segundo conjunto coloca uma questão adicional, uma vez que «que los yerros por amores | dignos son de perdonar», além de integrar o tema protagonizado por Conde Claros, foi recolhido em 1627 por Gonzalo Correas no seu Vocabulario de refranes y frases proverbiales (1992: 203, 278 e 514), sugerindo uma autonomia semântica da expressão e uma existência enquanto forma proverbial, como foi apontado igualmente por Teresa Araújo (2014: 7).
Esta última tipologia corresponde ao grupo maioritário, num total de 11 menções pela mão de 8 autores distintos. Contempla a lírica, onde encontramos alguns dos testemunhos mais antigos (duas composições poéticas de João Rodrigues de Sá e João de Meneses, fixadas no Cancioneiro geral, e uma écloga de Bernardim Ribeiro), a novela pastoril Menina e Moça, mas é dominado manifestamente pelo teatro (Comédia dos Estrangeiros de Francisco Sá de Miranda, Auto de Rodrigo e Mendo de Jorge Pinto, Auto do Físico de Jerónimo Ribeiro, Auto do Procurador de António Prestes e, por último, pela mão de Jorge Ferreira de Vasconcelos nas Comédia Ulissipo e Comédia Eufrosina). Este corpus assim constituído encontra-se circunscrito ao século XVI. Aferir se a inclusão de «que los yerros por amores | dignos son de perdonar» nestas obras, sob formas mais ou menos reelaboradas, corresponde a uma alusão às aventuras de Conde Claros ou se, pelo contrário, esta poderia dar-nos algum indício acerca da utilização da forma proverbial em terras lusas, exige considerar diversos aspetos em simultâneo: o exame crítico da funcionalidade e efeitos do intertexto na obra recetora, a língua desta interpolação (português, espanhol e/ou formas mistas), o conhecimento do romanceiro demonstrado pelo autor na totalidade da sua obra, a notoriedade do próprio tema junto de outros seus coetâneos, a que podemos acrescer ainda a preservação de «Conde Claros preso» pela memória coletiva portuguesa6.
O argumento da língua foi, aliás, utilizado por Carolina Michaëlis de Vasconcelos para tentar estabelecer a fonte da recriação de «que los yerros por amores | dignos son de perdonar» por parte dos autores portugueses: «Cada vez que este ditado surge, no ritmo dos romances, em autores que costumam citar textos velhos, demais a mais fazendo-o em castelhano, entremetido num texto português, é de supor que se lembravam do Romance do Conde Claros» (Vasconcelos, 1980: 155-156). Por outro lado, afirma a filóloga: «A tradução fazia-se quando o autor ligava importância superior ao pensamento, de sabor proverbial» (Vasconcelos, 1980: 362). A formulação adotada por Dona Carolina parece denotar, à partida, alguma ambiguidade. A eleição do vocábulo «ditado», na primeira citação, sugere que a erudita assume a precedência da forma proverbial ou, pelo menos, a existência autónoma do enunciado «que los yerros por amores | dignos son de perdonar» enquanto tal. Contudo, lida à luz da segunda passagem, esta circulação em português no século XVI não é contemplada pela erudita, uma vez que esta atribui aos autores a responsabilidade da «tradução» de uma forma originalmente castelhana. O exame do corpus aqui considerado mostra-nos, porém, que a fórmula é utilizada em português na maior parte das obras. Senão vejamos.
- «e erros em qu’ acertais, | porque sam de perdoar», João de Meneses, Cancioneiro geral (Resende, 1516: f. XVIIv).
- «Agora depois d' achar | em meus erros o que neles | nom podês dissimular, | nisto m' havês de salvar: | em serem propios aqueles | que sam pera perdonar», João Rodrigues de Sá e Meneses, Cancioneiro geral (Resende, 1516: f. CXXIIIv).
- «e deves-me de perdoar | pois que foi erro de amores», Égloga quinta «Rybeiro triste pastor» (Ribeiro, 1554: f. cxxvr).
- «Erros damor sam dinos de perdoar», Menina e Moça (Ribeiro, 1557: fls. cxlijv-cxliijr).
- «que erros por amores | são dinos de perdoar» e «Não se perdoam erros mores? […] Senhor si, los por amores», António Prestes, Auto do Procurador (Primeira parte, 1587: fls. 41r e 31v).
- «erros d’amor | são dinos de perdoar», Jorge Pinto, Auto de Rodrigo e Mendo (Primeira parte, 1587: f. 60r).
- «que os erros por amores | sam dinos de perdoar», Jerónimo Ribeiro, Auto do Físico (Primeira parte, 1587: f. 111v).
- «que los yerros por amores dignos son de perdonar» (Sá de Miranda, 1559: 62).
- «los erros por amores dignos son de perdonare» (Vasconcelos, 1618: f. 99v).
- «q[ue] os erros por amores. nihil sequitur in re» (Vasconcelos, 1560: 309).
Como podemos ver, sete interpolações figuram nas respetivas obras em português, apenas dois engastes se encontram em castelhano (num dos casos com o lusismo «erros») e, por fim, no discurso do Doutor Carrasco da Comédia Eufrosina, o primeiro hemistíquio do verso integra a peça em português enquanto o segundo é substituído pela expressão latina «nihil sequitur in re», ao serviço do discurso jurídico da personagem e de um desígnio paródico (1560: 309). No entanto, não podemos deixar de notar, na senda das observações de Carolina Michaëlis de Vasconcelos acima transcritas, a língua das menções desta fórmula em obras que utilizam igualmente outros elementos de «Conde Claros preso» e que, deste modo, demonstram explícita e textualmente a alusão ao romance. Com efeito, excetuando «Pues que a Portugal partís» de D. Francisco de Portugal, composto inteiramente em castelhano, Camões recria a expressão em português no Auto del Rei Seleuco, «que os erros por amores tem privilégio de moedeiro» (Camões, 1645: f. 187r), assim como o autor anónimo de «A sentença ya he dada», «q[ue] os erros por amores | erros são de perdoar» (Askins, 1968: 308). A preferência dos autores aqui examinados pela forma portuguesa é indiscutível, correspondendo a mais de 80%. Além do mais, não devemos ignorar outros indícios do conhecimento de «Media noche era por filo» em Portugal, como a alusão à divulgação cantada das aventuras de Conde Claros. A Comédia Eufrosina de Jorge Ferreira de Vasconcelos, apesar de não incorporar outros elementos discursivos ou poéticos do romance além do citado «q[ue] os erros por amores. nihil sequitur in re», testemunha a importância da respetiva melodia: «Vós, eu não vos nego que sabeis muito bem harpar um Conde Claros, que eles logo dizem que não há tal música» (Vasconcelos, 1555: f. 9r)7.
O exame literário que a crítica tem dedicado a estes intertextos, sobretudo à respetiva funcionalidade e efeitos na obra recetora, também permitiu contrariar a sugestão de Carolina Michaëlis de Vasconcelos. De facto, Teresa Araújo argumentou já a favor da alusão comprovada ao romance na maioria destas composições (2014: 7) e vimos, por exemplo, num outro estudo o papel desempenhado pela integração em português de «erros d’amor | são dinos de perdoar» no Auto de Rodrigo e Mendo de Jorge Pinto, em que a recriação do verso de «Media noche era por filo» permite estabelecer uma relação particular entre os enredos do romance e da peça, servindo a declaração do protagonista acerca da sinceridade do seu sentimento amoroso pela figura feminina e como forma de evitar a oposição paterna8.
ROMANCE OU PROVÉRBIO, UMA NOVA REVISÃO CRÍTICA
À conjugação destes fatores, une-se naturalmente o exame da bibliografia paremiológica que, apesar de ter identificado a presença do enunciado no seiscentista Vocabulario de refranes y frases proverbiales (1992), ainda não se havia dedicado às coleções portuguesas. Na verdade, se, por um lado, Gonzalo Correas inclui «Los yerros por amor dinos son de perdonar» e «Yerros de amor dinos son de perdón» (1992: 203, 278 e 514) neste Vocabulario, por outro, não pudemos encontrar a expressão em qualquer outro dos títulos cotejados. Está ausente da obra coetânea das composições portuguesas analisadas, Refranes o Proverbios en Romance (1555) de Herman Nuñez de Gusman, que inclui uma pequena compilação de provérbios portugueses. Em Portugal, não integra o primeiro volume exclusivamente dedicado ao género Adágios Portugueses reduzidos a lugares comuns (1651) do Padre António Delicado, como não se encontra na Philosofia Moral – tirada de alguns provérbios ou adágios (1640), de Frei Aleixo de Santo António, nem no Florilégio dos modos de falar e adágios da língua portuguesa (1655), da autoria do Padre Bento Pereira. D. Francisco Manuel de Melo não o utilizou na elaboração da sua Feira de Anexins (2021), muito embora soubéssemos de antemão que o autor não recorreu a «Conde Claros preso» ou ao verso aqui em análise, segundo se pôde apurar até ao momento. Nem na centúria seguinte se dá conta da autonomização da expressão no Vocabulário Português e Latino (1712-1728) de Raphael Bluteau ou em Adágios, provérbios, rifões e anexins da língua portuguesa, tirados dos melhores autores nacionais e recopilados por ordem alfabética (1780) de Francisco Rolland9. Esta ausência, de que a coletânea de Gonzalo Correas é exceção, em conjunto com a análise das obras literárias do corpus enunciado dificultam a argumentação a favor da circulação autónoma da expressão em Portugal como forma proverbial.
Finalmente, recuperamos ainda o trabalho de Teófilo Braga e Carolina Michaëlis de Vasconcelos sobre a paremiologia, por os dois eruditos se terem dedicado também a elencar a presença do romanceiro velho na literatura portuguesa e de, por isso, podermos cotejar os catálogos elaborados para ambos os géneros. O levantamento realizado por Teófilo Braga dos «Anexins do século XIII a XV» e dos «Anexins do século XVI» (1914-1915, 1915), dando particular ênfase aos contidos nas comédias Ulissipo e Eufrosina de Jorge Ferreira de Vasconcelos que aqui nos ocupam, não menciona qualquer variante portuguesa ou castelhana de «Los yerros por amor dinos son de perdonar». Já no caso de Dona Carolina, os seus «Mil provérbios portugueses» correspondem apenas aos iniciados pela letra A e também não a incluem (1986). Curiosamente, no terceiro volume da Historia da Litteratura Portugueza, dedicado aos «seiscentistas» (1916), Braga narra uma desavença entre Manuel de Faria e Sousa e o bispo do Porto, D. Gonçalo de Moraes, adotando a expressão «[c]omo os erros de amor são faceis de perdoar (…)» (1916: 408) para se referir à resolução parcial desta contenda.
AMPLIAÇÃO DO CORPUS DE MENÇÕES A «QUE LOS YERROS POR AMORES» EM PORTUGUÊS
O corpus acima elencado foi recentemente objeto de uma importante atualização, com a descoberta da utilização de formas recriadas de «que los yerros por amores | dignos son de perdonar» em português, em dois novos contextos. Primeiro, na correspondência do padre jesuíta Fr. Jerónimo Xavier, quando em 1596 dirige uma missiva ao padre português Fr. Francisco Cabral, a partir de Laore, relatando os costumes locais. Após uma longa descrição das formas de tratamento da figura do rei, confessa o autor da carta antes de retomar a narrativa (sublinhados nossos):
Não sei como me correo tanto a pena e desguarrei porventura, que a corrente do amor e fresco vento de dar gosto a meus Yrmãos, e determe praticando com elles saltem por escrito, me levou pollo mundo abaixo, mas erros por amor dizem que são faceis de perdoar. Hia dizendo as festas que fazia de gentio este Rei ao sol o domingo, cada sommana, e o primeiro dia do mes, e o primeiro dia do anno e outras festas de gentio (Wicki, 1988: 565).
Os «erros por amor» reportam-se aqui à predileção pelo relato escrito e a conjugação do verbo declarativo («dizem») coloca a expressão utilizada no domínio do conhecimento partilhado10.
Em segundo lugar, também relacionado com a escrita, em meados do século XVII (mais precisamente em 1648) é impresso em Lisboa, na oficina de Paulo Craesbeeck, O valeroso Lvcideno e trivmpho da liberdade, aclamada na Restauração de Pernambuco, da autoria de Frei Manuel Calado. Trata-se de uma obra composta na sequência da invasão holandesa e o autor refere-se à sua competência enquanto escritor para dar voz aos acontecimentos:
& se ouuver quem reprenda minha temeridade por a insuficiencia, & pouco cabedal de minhas letras; tambem confio q[ue] não faltarà quem me desculpe com dizer, que o que me falta de sufficiencia, suprira o amor da patria, que he o q[ue] me vai abrindo o caminho; & que os erros por amor, dignos saõ de perdoar (Calado, 1648: 102).
Estes dois testemunhos em português reúnem-se, assim, ao conjunto de obras mais tardias do corpus inicialmente definido. Numa primeira leitura, destacam-se também pela ausência de elementos que nos permitam relacioná-los com o romance de Conde Claros. Efetivamente o ideal de amor cortês, expresso no segmento do relato romancístico a que pertence o verso «que los yerros por amores | dignos son de perdonar», e as aventuras e consequências de uma relação amorosa secreta não parecem ser evocados pelos respetivos autores, nem de modo análogo nem com um intento paródico. No caso de Fr. Manuel Calado, o autor refere-se ao «amor da pátria», em ambos os contextos, a utilização da expressão relaciona-se com o ofício da escrita e com a estratégia da captatio benevolentiae. Apesar das diferenças entre os géneros literários inicialmente considerados e o género epistolar, a carta de Jerónimo Xavier corresponde também ao primeiro registo da expressão em língua portuguesa em território ultramarino.
CONCLUSÃO
As obras literárias de autores portugueses dos séculos XV a XVII, elencadas por Carolina Michaëlis de Vasconcelos nos Romances Velhos em Portugal (1980) e identificadas por outros investigadores posteriormente ao catálogo da filóloga, testemunham a circulação e a notoriedade de que gozavam em Portugal o romance «Media noche era por filo», bem como o verso «que los yerros por amores | dignos son de perdonar», na variante impressa pela primeira vez no Cancionero de romances de Nucio (1914: f. 85r). Realçando também estas demonstrações, nos estudos mais recentes Vicenç Beltran sublinhou o eventual papel do português Lopo de Sousa para o conhecimento português do tema nos últimos anos do século XV (2018: 69, 72-73). No entanto, para a questão que aqui nos ocupa, deve destacar-se que o romance trovadoresco atribuído ao aio dos filhos de D. João II não utiliza nem recria este verso.
Examinadas as alusões a «Media noche era por filo» por parte dos autores portugueses, era necessário procurar provas da circulação de «que los yerros por amores | dignos son de perdonar» como forma proverbial nos séculos XV a XVII, à semelhança das evidências reunidas sobre este período em Espanha, e determinar o seu caráter transfronteiriço. Com efeito, além do testemunho de Gonzalo Correas no século XVII no Vocabulario de refranes y frases proverbiales (1992: 203, 278 e 514) e da tese de Ramón Menéndez Pidal acerca da precedência de versos de romances que se proverbializam (1953: 184-189), diversos estudiosos afirmaram recentemente a autonomização do verso (Beltran, 2018: 66; Bizzarri, 2008: 412). Em Portugal, conforme se pôde verificar, a fórmula não faz parte das coleções de provérbios cotejadas. Porém, a análise e os dados apresentados sugerem a anterioridade do verso do romance que depois se autonomizou, sujeito a um processo de ressemantização. Na prosa didática medieval, por exemplo, a sentença «Quem fallece em hum pecado, em todos he digno de culpa», expressa por D. Duarte no Leal Conselheiro (Braga, 1914: 229), adequa-se à moralidade do tratado e do período. No relato das aventuras de Conde Claros, a lição inverte-se e o verso «que los yerros por amores | dignos son de perdonar» encontra-se ao serviço da expressão do ideal de amor cortês perfilhado pelo protagonista na relação com a filha de Carlos Magno.
Este ideal, as peripécias do enredo e as relações das personagens são evocados pelos autores portugueses com uma função demonstrativa ou com um propósito paródico (Araújo, 2014: 7-8; 2019: 66), por meio da alusão ao romance. Contudo, a ampliação do corpus de menções a «que los yerros por amores | dignos son de perdonar» em língua portuguesa aqui trazida a luz mostra como, num período mais tardio comparativamente ao da maioria dos engastes identificados pela crítica, a expressão perde a associação ao sentimento amoroso e à dedicação afetiva a uma figura feminina, subjacentes ao verso de «Media noche era por filo». Tanto Frei Jerónimo Xavier como Frei Manuel Calado utilizam uma tradução portuguesa do verso do romance para se referirem aos «erros» cometidos em nome do amor pela pátria e pelo ofício da escrita. Note-se ainda a coincidência da forma adotada na missiva do padre jesuíta no final do século XVI e a empregue por Teófilo Braga três centúrias depois, remetendo para o domínio do saber comum.
Deste modo, parece certa a circulação mais tardia da fórmula em Portugal, semanticamente autónoma do contexto do romance e próxima de uma forma proverbial. Além do mais, o estudo destas relações entre o romanceiro e a paremiologia permitem contribuir para a releitura das obras que integram testemunhos da literatura tradicional, para a revisão do processo criativo dos respetivos autores, assim como para um conhecimento mais amplo da transmissão do romanceiro antigo e dos provérbios em Portugal e para a própria história da língua, numa discussão que permite questionar ainda relações e fronteiras genológicas.
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RODRÍGUEZ-MOÑINO, Antonio (1973): Manual bibliográfico de cancioneros y romanceros (Siglo XVI), coord. por Arthur Lee-Francis Askins, II, Madrid, Editorial Castalia.
RODRÍGUEZ-MOÑINO, Antonio (1978): Manual bibliográfico de cancioneros y romanceros (Siglo XVII), coordinado por Arthur Lee-Francis Askins, II, Madrid, Editorial Castalia.
RODRÍGUEZ-MOÑINO, Antonio (1997): Nuevo diccionario bibliográfico de pliegos sueltos poéticos (Siglo XVI), ed. corrigida e atualizada por Arthur Lee-Francis Askins y Víctor Infantes, Madrid, Editorial Castalia.
ROLLAND, Francisco (1780): Adagios, provérbios, rifões rifãos e anexins da língua portuguesa, tirados dos melhores autores nacionais e recopilados por ordem alfabética, Lisboa, Tipografia Rollandiana.
SÁ DE MIRANDA, Francisco (1559): Comedia dos Estrangeyros. Feyta por ho doutor Francisco de Saa de Miranda. Impressa em Coimbra por Ioam de Barreyra.
SANTO ANTÓNIO, Frei Aleixo (1640): Philosophia Moral. Tirada de alguns Prouerbios ou Adagios, amplificados com authoridades da Sagrada Escriptura, & Douctores que sobre ella escreueram, Coimbra, Por Diogo Gomez de Loureiro.
SIRGADO, Ana (2021): «Uma memória portuguesa de “Media noche era por filo”», Abenámar. Cuadernos de la Fundación Ramón Menéndez Pidal, 4, pp. 93–105.
Teatro de Autores Portugueses do Século XVI (2010-). URL: <http://www.cet-e-quinhentos.com/>
VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de (1980): Estudos Sobre o Romanceiro Peninsular. Romances Velhos em Portugal. Porto: Lello & Irmão – Editores (publicado, pela primeira vez, sob o título «Estudos sobre o Romanceiro peninsular. Romances velhos em Portugal», Cultura española, VII (1907), pp. 767–803; VIII (1907), pp. 1021–1057; IX (1908), pp. 93–132; X (1908), pp. 435–512; XI (1908), pp. 717–758; XIV (1909), pp. 434–483; XV (1909), pp. 697–732).
VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de (1986): «Mil provérbios portugueses», Revista Lusitana (nova série), 7, pp. 29–71.
VASCONCELOS, Jorge Ferreira de (1555): Comedia Eufrosina. Ao Principe nosso senhor, Coimbra, por Ioã de Barreyra.
VASCONCELOS, Jorge Ferreira de (1560): Comedia Eufrosina. De nouo reuista, & em partes acrecẽtada, Coimbra, Por Ioã de Barreyra Impressor da Vniuersidade.
VASCONCELOS, Jorge Ferreira de (1618): Comedia Vlysippo de Iorge Ferreira de Vasconcellos. Nesta segvnda impressaõ apurada, & correcta de algũs erros da primeira. Com todas as licenças necessarias. Em Lisboa: Na officina de Pedro Craesbeeck.
VASCONCELOS, Jorge Ferreira de, Comédia Aulegrafia, Centro de Estudos de Teatro, Teatro de Autores Portugueses do Séc. XVI, <www.cet-e-quinhentos.com> [Último acesso: 02/06/2020].
VASCONCELOS, Jorge Ferreira de, Comédia Eufrosina, Centro de Estudos de Teatro, Teatro de Autores Portugueses do Séc. XVI, <www.cet-e-quinhentos.com> [Último acesso: 02/06/2020].
WICKI, Joseph (ed.) (1988): Documenta Indica, XVIII (1595–1597), Romae, Institutum Historicum Societatis Iesu.
Fecha de recepción: 20 de abril de 2022
Fecha de aceptación: 23 de mayo de 2022
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1 Este trabalho foi realizado no âmbito do projeto RELIT-Rom. Revisões literárias: a aplicação criativa de romances antigos (sécs. XV-XVIII), coordenado por Teresa Araújo e desenvolvido no Instituto de Estudos de Literatura e Tradição (NOVA FCSH), com o financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian (Programa Língua e Cultura Portuguesa, n.º 207951) e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, de Portugal (UID/ELT/00657).
2 Rodríguez-Moñino, 1973: 584; 1978: 166; 1997: n.os 477, 936, 1017, 1018, 1160, 1161.
3 Os resultados do desenvolvimento do projeto encontram-se disponíveis em acesso aberto, no endereço <https://relitrom.pt/index.php/base-de-dados>.
4 A variante «que los yerros con amores | dignos son de perdonar» foi impressa em dois folhetos de cordel das coleções de Praga e Madrid (Rodríguez-Moñino, 1997: n.os 1017 e 1018).
5 O contexto em que estes elementos surgem, a reelaboração de que são alvo e as referências bibliográficas, tanto da obra em que se verifica o engaste como das suas possíveis fontes romancísticas, podem ser consultados nas fichas da base de dados do projeto RELIT-Rom. Revisões literárias: a aplicação criativa de romances antigos (sécs. XV-XVIII) relativas a cada um dos romances analisados neste estudo, em <https://relitrom.pt/index.php/base-de-dados> [16/02/2022].
6 A presença do verso «uma morte por amor é boa de perdoar» numa versão moderna minhota de «Conde Claros vestido de frade» (IGR: 0159), contaminada com «Conde Claros preso», foi já objeto de estudo (Sirgado, 2021).
7 Conforme sublinhou igualmente Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1980: 151), o teatro quinhentista dá testemunho desta circulação pela mão do mesmo dramaturgo na Comédia Aulegrafia: «Ora pois que assi é tocarei o rapaz do Conde Claros» (f. 84r) e pelo autor anónimo do Auto de Dom André: «entra o Ratinho vestido já como paje, fazendo o Conde Claros nũa guitarra» (f. 6v), consultados em <http://www.cet-e-quinhentos.com> [20/03/2022].
8 O exame da interpolação de versos de romances na única obra conhecida de Jorge Pinto encontra-se neste momento no prelo, numa publicação decorrente do VI Congreso Internacional de Romancero da responsabilidade da Fundación Ramón Menéndez Pidal (Ana Sirgado, «Romances no teatro de Jorge Pinto, o “cantar ninguém no enjeita”»).
9 Esta pesquisa baseou-se parcialmente no valioso projeto Corpus Lexicográfico do Português e na base de dados disponível em <http://clp.dlc.ua.pt/Inicio.aspx> [último acesso: 10/03/2022].
10 Encontro-me, de momento, a estudar esta correspondência no âmbito do projeto RELIT-Rom. Revisões literárias: a aplicação criativa de romances antigos (sécs. XV-XVIII).